Cidade que
integra a primeira fase do projeto de implantação do Trem Intercidades, orçado
em R$ 5,4 bilhões, Americana, no interior de São Paulo, não comporta tráfego
adicional de trens na linha ferroviária que corta o município.
A
informação, que pode até significar um entrave no projeto, é da concessionária
Rumo, que administra o trecho ferroviário no interior paulista.
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O trem foi
anunciado em fevereiro pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB) e foi
encampado pelos principais candidatos ao Governo do Estado de São Paulo.
Americana
fica na linha tronco da concessão, o chamado corredor de exportações, que sai
de Rondonópolis (MT) e segue até Santos, passando por cidades paulistas como
São José do Rio Preto, Araraquara, Rio Claro e Campinas.
“Mesmo que
considerados todos os esforços contínuos que vêm sendo empreendidos e os
investimentos que vêm sendo realizados, o tráfego adicional de trens na linha
tronco se mostra incompatível com o transporte de passageiros. Atualmente, o
trecho já apresenta saturação de capacidade”, diz a empresa.
A Rumo diz
que, além dela, utilizam a ferrovia, por meio do direito de passagem, composições
de outras concessionárias.
Se não for
possível o compartilhamento da malha, o trecho entre Americana e Campinas
poderá necessitar de desapropriações e estudos ambientais, segundo relatos de
dirigentes de entidades do setor ferroviário. Esses avaliam ainda que,
dependendo das exigências do projeto, poderá ser inviável levá-lo até Americana
—nesse caso, Campinas seria a ponta final do trecho.
Já o trecho
entre Jundiaí e Campinas pode ter tráfego adicional, segundo a empresa, “desde
que sejam devidamente conduzidos estudos específicos nesse sentido, visando
entender e dimensionar as adequações necessárias”.
“Não se
chegou ainda a detalhamento nenhum, as prefeituras estão fora da discussão.
Como não está definido 100% onde vai ser a linha, não dá para falar nada, mas é
um modal muito importante, que precisa ser feito”, disse o secretário do
Planejamento de Americana, Claudio Amarante.
Em
fevereiro, São Paulo contratou a Deutsche Bahn, junto com o Banco
Interamericano de Desenvolvimento e o Banco Mundial, para elaborar o plano de
mobilidade para a implantação de um sistema de transportes para a
macrometrópole paulista, com investimento de US$ 6 milhões no projeto (cerca de
R$ 25 milhões, no câmbio atual).
A
macrometrópole é uma área que engloba a região metropolitana da capital,
Santos, Sorocaba, Campinas, São José dos Campos e conexão com São Sebastião.
Concentra 80% do PIB do estado e três quartos da população paulista.
A primeira
fase contempla o trecho entre São Paulo e Americana, passando por Jundiaí e
Campinas, com 135 km de trilhos e nove estações, segundo a Secretaria dos
Transportes Metropolitanos.
A estimativa
é que o ramal transporte 68 mil passageiros por dia. O trem deve operar junto
com a linha 7-Rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), que já
segue de São Paulo até Jundiaí.
Dos R$ 5,4
bilhões previstos para toda a obra, R$ 1,8 bilhão deve ser investido pelo
estado, conforme a pasta.
TREM
INTERCIDADES
De acordo
com o governo, a primeira versão do estudo foi entregue em julho e está sendo
refinada para ser apresentada pelo estado e nortear a publicação do edital.
Depois, será apresentada à União para que sejam definidas as regras de
compartilhamento de vias férreas.
A Folha
solicitou acesso ao projeto e uma entrevista com técnicos, mas o pedido não foi
atendido.
“Especificações
mais detalhadas foram solicitadas em alguns estudos como investimento
necessário, compartilhamento da malha existente e demanda de passageiros. A
qualidade do projeto depende deste compartilhamento de informações e é
determinante para a constituição de uma proposta realmente atraente para os
investidores”, diz trecho de nota do governo.
O prazo para
concluir os estudos de toda a macrometrópole é de 20 meses.
Questionada
sobre autorização para uso da faixa de domínio da ferrovia, a ANTT (Agência
Nacional de Transportes Terrestres) informou que a utilização “demanda um
processo complexo, que exige a atuação de diversos órgãos”.
ELEIÇÕES
A
implantação do projeto no trecho entre Jundiaí e Campinas está em discussão com
a Secretaria dos Transportes Metropolitanos, segundo a concessionária Rumo. O
governador Márcio França (PSB) visitou o trecho no mês passado.
Além dele,
candidato à reeleição, concorrentes a ocupar a sua cadeira no Palácio dos
Bandeirantes como João Doria (PSDB) e Paulo Skaf (MDB) também defenderam a
obra.
Doria disse
em entrevista no interior que ela será feita com recursos privados, via PPP
(parceria público-privada), por exemplo, posição defendida por Skaf, que chegou
a andar nos trilhos em Campinas.
Via
assessoria, a Prefeitura de Campinas, governada por Jonas Donizette, do mesmo
partido do governador, informou que apoia a obra. “Essa é uma demanda antiga,
não é um projeto novo e vem sofrendo adequações ao longo dos anos. O Trem
Intercidades é uma solução mais do que necessária, que depende de viabilidade
econômico-financeira.”
Amarante
disse que há espaço físico para a implantação em Americana –os trilhos cortam a
região central da cidade. “Não temos é questões operacionais, local em que
seria o pátio de manobras, esses detalhes.”
DÚVIDA
Especialista
em preservação ferroviária, Ralph Giesbrecht disse não crer que o projeto sairá
do papel e que a viabilidade já foi demonstrada pela história das ferrovias no
país –implantadas a partir de 1854.
“Gostaria
muito que saísse, principalmente porque é um trem regular, não turístico.”
Já o técnico
em informática Cristiano Almeida, de Americana, afirmou esperar que ele seja
implantado e facilite o seu deslocamento até a capital, feito duas vezes por
semana. “Nós estamos tão perto de São Paulo mas, ao mesmo tempo, longe demais,
já que o transporte atual torna tudo lento.”
Cada trem de
carga equivale à saída das rodovias de cerca de 300 caminhões.
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