Após descarregar minério de ferro suficiente para construir uma Torre Eiffel, o “Minério 11”, um trem de 160 vagões, faz soar seu apito e deixa o porto de Tubarão, no Espírito Santo, para retornar às minas do interior de Minas Gerais. Com cerca de 45 trens para o transporte de minério de ferro utilizando seus trilhos, a mais movimentada ferrovia brasileira não tem movimento suficiente, diz Reinaldo Moraes, 27, o engenheiro-chefe da linha. Desde 2001, sua proprietária, a Cia. Vale do Rio Doce, a maior produtora mundial de minério de ferro, investiu US$ 1 bilhão para ampliar e realizar melhorias em ferrovias e portos e, ainda assim, ainda não é capaz de transportar minério a um ritmo veloz o suficiente para atender a demanda das siderúrgicas da China e da Europa.
Ferrovias, rodovias e portos congestionados e obsoletos estão sufocando as exportações brasileiras e reduzindo o ritmo de crescimento da economia do país, que movimenta US$ 600 bilhões, segundo o instituto de pesquisa carioca Fundação Getúlio Vargas.
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As exportações brasileiras de produtos como minério de ferro, soja, café e automóveis dispararam cerca 33% e atingiram o recorde de US$ 96,5 bilhões no ano passado.
Após reduzir os gastos com transportes nos últimos dois anos, o governo brasileiro prevê em seu orçamento deste ano um aumento de 76% nos investimentos no setor, que passarão a R$ 4,2 bilhões. A meta é impedir que estradas esburacadas, linhas ferroviárias congestionadas e portos obstruídos por sedimentos atuem como um freio para as exportações do país. A modernização do sistema de transportes do Brasil levará anos para ser realizada.
“Temos enorme demanda reprimida por investimentos em transportes”, diz Paulo Sérgio Oliveira Passos, secretário-executivo do Ministério dos Transportes. “Por mais de década investimos pouco na infra-estrutura do setor de transportes”. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reduziu os investimentos em transportes após assumir o cargo, em 2003, para deter o crescimento da dívida do governo, de US$ 450 bilhões. Naquele ano, o Ministério dos Transportes investiu R$ 1,4 bilhão em transportes, a menor quantia desde 1996, e no ano passado o volume foi de R$ 2,4 bilhões. Segundo o último orçamento, este ano o Brasil investirá no setor três vezes o valor gasto em 2003, disse Oliveira Passos.
As deficiências do sistema rodoviário custam à economia US$ 2,2 bilhões em crescimento por ano, segundo um estudo divulgado no mês passado pela Fundação Getúlio Vargas. Investidores como Adam Weiner, que administra papéis das dívidas de mercados emergentes, entre os quais bônus brasileiros, na Oppenheimerfunds Inc. de Nova York – empresa que detém US$ 180 bilhões em ativos – , dizem duvidar que o aumento dos investimentos apresentará resultados rápidos. “Um sistema de transportes ruim é um problema estrutural de longo prazo e não acredito que essa situação possa ser reparada rapidamente”, disse Weiner. “Um sistema de transportes ruim gera custos adicionais para todos os setores”.
A Vale, a maior operadora de estradas de ferro do País, e a Cia. Siderúrgica Nacional, também sediada no Rio e que exporta mais de 25% de sua produção de aço, estão crescendo e realizando melhorias em suas próprias ferrovias e instalações portuárias. Mas os produtores agrícolas dependem do governo para reformar as rodovias do país. Estimulado pela disparada da demanda por parte da China, o Brasil duplicou sua safra de soja desde 1999, tornando-se o segundo maior produtor mundial da commodity, atrás dos Estados Unidos. Atualmente, a soja, o óleo de soja e o farelo de soja respondem por cerca de 10% das exportações brasileiras.
Grande parte do crescimento da safra brasileira ocorreu no Mato Grosso, onde a terra é barata e o clima é propício. “Este é um lugar fantástico para ser agricultor”, diz José Paulo Kummer, de Lucas do Rio Verde. A desvantagem da região é o transporte,acrescenta.
Para entregar os grãos a
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