Vale luta pelo direito de crescer

África do Sul, Moçambique, Angola, Gabão, Venezuela, Cuba, Estados Unidos, Suíça. Tudo isso só nas últimas três semanas. Sem falar no Japão e na China, visitados pelo menos quatro vezes por ano. Roger Agnelli, presidente da Companhia Vale do Rio Doce, já perdeu a conta de quantas vezes deu a volta ao mundo em busca de negócios e novos mercados para a terceira maior mineradora do planeta. Só no ano passado, foram mais de 600 horas de vôo. É tanto tempo a bordo que aproveita para se reunir com diretores a 10 mil metros de altitude, enquanto cruza o Oceano Atlântico, Pacífico ou Índico.

As constantes viagens e as jornadas de no mínimo 12 horas diárias de trabalho não parecem abatê-lo. Ao contrário. Agnelli comemora vitórias e traça planos para tornar a gigantesca ex-estatal ainda maior. “Um país precisa de empresas grandes para ser grande“, defende. Está exultante, após o inédito reajuste de 71,5% no preço do minério de ferro, negociado com seus clientes. Em seu estilo direto, porém, não poupa críticas aos representantes do setor siderúrgico que acusaram a Vale de impor aumento abusivo. “O carvão subiu 120% e ninguém falou nada. Por que a alta do minério virou escândalo?“, questiona. “O lobby do aço é forte. Existem interesses nacionais bilionários por trás. O Brasil não pode ficar de joelhos perante o mundo“.

No caso, a disputa foi encerrada com um reajuste que representará quase US$ 4 bilhões a mais de saldo na balança comercial, mas que também antecipa uma guerra feroz pelo mercado mundial de mineração. A Vale dobrou de tamanho nos últimos quatro anos e pretende ampliar sua capacidade de produção em mais 50%, para 300 milhões de toneladas de minério de ferro por ano, até 2008. Para isso, investirá US$ 3,3 bilhões no País em 2005. Agnelli calcula que estes investimentos, somados ao aumento recorde dos preços, terão impacto de 0,5 ponto percentual no crescimento econômico do País.

O bom momento financeiro, contudo, não se traduz em tranqüilidade. A Vale enfrenta, além da pressão de siderúrgicas estrangeiras, a desconfiança de autoridades regulatórias brasileiras. Agnelli critica duramente as condições propostas pela Secretaria de Direito Econômico (SDE) para a aprovação da compra de mineradoras como Samitri e Ferteco – venda de portos e trechos de ferrovias.

“No Brasil, empresa grande devia ser aplaudida. O que nós fizemos de errado? Investimos na logística do País. A malha ferroviária estava abandonada, ninguém queria investir. Nós fizemos as obras e agora vêm dizer que somos uma ameaça à concorrência? Nunca faltou um grama de minério. Temos 30% do mercado brasileiro e quase 50% do europeu, mas lá não há qualquer problema com as autoridades regulatórias“, lembra, citando o impacto negativo do parecer da SDE na imprensa estrangeira.

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Fonte: Jornal do Brasil

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