BNDES vai voltar a ser sócio de empresas

RIO – Depois do abandono na gestão do ex-presidente Carlos Lessa, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), sob o comando de Guido Mantega, está reabrindo de forma vigorosa a sua atuação em mercado de capitais. Nesta entrevista ao Estado, Demian Fiocca, vice-presidente e responsável por infra-estrutura e insumos básicos, detalhou como vai funcionar a nova área de mercado de capitais, que será mais integrada à área tradicional de financiamento por empréstimos (renda fixa) do que no passado. Ele disse que o principal executivo da nova área ainda não foi escolhido.

O BNDES está decidido a entrar como sócio tanto em grandes investimentos de infra-estrutura, de bilhões de reais, em áreas como celulose e siderurgia, quanto em pequenas e médias empresas inovadoras. Nas Parcerias Público-Privadas (PPPs), a instituição estuda a liberação de determinados tipos de garantia quando os projetos já estiverem maduros, isto é, prontos e nos estágios iniciais de funcionamento.

Fiocca não quis comentar o aporte que o BNDES deve fazer, como conversão de dívida e novos recursos, na Brasil Ferrovias, avaliado em mais de R$ 500 milhões, porque a operação ainda está sendo montada. Mas, em termos teóricos, afirmou que o BNDES não deve se autolimitar no caso de empresas com dificuldade de honrar os financiamentos, e deve estudar todas as hipóteses possíveis, buscando a mais vantajosa para o banco. A seguir, a entrevista:


Qual a estratégia do BNDES em termos de mercado de capitais?

Há uma iniciativa de colocar um grupo sênior em mercado de capitais e renda variável. Acho que a sustentação de médio e longo prazos do atual ciclo de crescimento vai se consolidar com a melhoria da poupança interna ou da transmissão da poupança para o investimento produtivo. Do rentismo para o setor produtivo.

Mas qual o papel específico do BNDES?

É o de ajudar a construir os canais desta migração, que imaginamos que vai ocorrer, de mais recursos financeiros para o financiamento, o investimento produtivo. A participação da renda variável é o que encurta esta transição, esta migração, e também ajuda a reduzir os custos de intermediação bancária, porque as operações de merca dos de capitais são mecanismos mais diretos de transferência do investidor para o empreendedor final.

E para que áreas o BNDES vai dirigir esse esforço?

O banco tem um desafio positivo, colocado pela perspectiva dos empresários atualmente, de contribuir para a viabilização de alguns grandes projetos, que não estavam tendo ânimo para serem feitos nos últimos anos, e atingem R$ 1 bilhão, R$ 2 bilhões, R$ 3 bilhões. Os nomes eu prefiro não falar. Estes grandes projetos são estruturas financeiras mais complexas, que ocorrem em determinadas áreas, como celulose e siderurgia. São projetos que fazem to do o sentido do ponto de vista da realidade econômica, mas, para serem competitivos em escala mundial, têm um porte mínimo tal que o capital de um único empreendedor é insuficiente para que o banco faça empréstimo naquele montante. Se o banco se dispõe a entrar com participação acionária, ou outros instrumentos, o projeto fica menos alavancado, a relação entre capital e financiamento melhora.

Em projetos de escala menor, como será a atuação?

As empresas inovadoras são projetos que implicam mais riscos, especialmente quando avaliados da forma tradicional, pelo patrimônio. Muitas vezes o ativo e o valor de um empreendimento desse tipo estão na qualidade dos seus técnicos e nos seus processos, questões intangíveis. Mesmo incorporando melhor o valor do intangível, o que vamos fazer, algumas empresas inovadoras têm maior risco. Isto significa que vai haver mais empresas que não dão certo, mas há também as que podem dar muito certo. Pode ter uma empresa na qual o BNDES entra com R$ 1 milhão, ela descobre um software importante, e em três anos está faturando R$ 50 milhões, R$ 100 milhões. Neste caso, faz sentido que o BNDES, pe

Fonte: O Estado de São Paulo