TÓQUIO – Em um país onde os operadores de trem se desculpam por estarem apenas um minuto atrasados, o orgulho da pontualidade e a intensa concorrência estão sendo questionados após a pior tragédia ferroviária no Japão em quatro décadas.
O total de mortos no acidente de segunda-feira, no qual um trem de passageiros lotado saiu dos trilhos e se chocou contra um prédio de apartamentos, se encaminhava ontem para superar a cifra de 100 mortos, na medida em que diminuía a esperança de encontrar sobreviventes em meio aos destroços.
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Investigadores analisam as possíveis causas, inclusive se o condutor do trem – de 23 anos e sem muita experiência – estava em alta velocidade numa curva para compensar os 90 segundos de atraso após ter passado da parada na estação anterior.
“”Podemos imaginar a possibilidade de o atraso ter pesado para o condutor””, disse em editorial o jornal japonês Asahi. “”Nós nos perguntamos se a questão da segurança foi suficientemente levada em consideração, dada a intensa concorrência entre a JR West (West Japan Railway Co.) e as empresas ferroviárias privadas””.
O sistema de trens do Japão, que transporta anualmente mais de 21 bilhões de passageiros em seus 27 mil quilômetros de linhas, tem uma reputação de segurança e pontualidade que inveja outros países.
Os atrasos nos “”trens-bala”” japoneses de alta velocidade são em média de apenas 60 segundos, mesmo os provocados por desastres naturais como terremotos e tufões.
Devido à forte concorrência, é comum funcionários que infringem muitas vezes as regras – como se atrasar – terem salários cortados, além de receber repreensões verbais e passar por uma “”reeducação””, durante a qual ficam afastados do trabalho. O condutor Masaki Hattori se suicidou em 2001, por exemplo, após passar pelo processo de “”reeducação”” porque seus trens estavam atrasados.
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