A equipe: o fotógrafo Americo Vermelho e o especialista Sergio Mártire (D)
Nos séculos 19 e 20 as locomotivas estavam para a comunicação como a internet está no século 21. Por isso, não deixa de ser intrigante o fato de o primeiro levantamento sobre o que restou das 40 mil locomotivas a vapor trazidas ao País entre a metade do século 19 e a década de 1950 ter começado justamente na web. `As 450 locomotivas catalogadas surgiram da troca de informações entre associações e pessoas interessadas na memória das ferrovias`, diz Sérgio Mártire, um desses estudiosos do assunto que, desde fevereiro, viaja com o fotógrafo Américo Vermelho para localizar e registrar as condições em que está cada uma dessas máquinas.
A expedição faz parte do projeto Memória Ferroviária, idealizado por Gerson Toller, outro apaixonado pelo tema. O objetivo é percorrer até o fim do ano 20 Estados brasileiros, passando por 185 cidades, para fotografar e coletar detalhes sobre a vida útil da máquina. As informações serão compiladas em um livro e servirão de base para futuras pesquisas e, por que não?, como incentivo para que governo e empresas abram os olhos para a necessidade de preservação da memória histórica das ferrovias nacionais.
`Foi uma surpresa ver que a maioria das locomotivas encontradas está em bom estado de conservação graças à comunidade que a preserva`, diz Vermelho.
A dupla está em São Paulo desde ontem, onde começou a registrar algumas das 193 máquinas espalhadas pelo Estado – que é o que tem a maior frota. Serão 12 dias percorrendo a capital e cidades próximas, como Bragança Paulista, Sorocaba, Jaguariúna, Iperó e Jundiaí. Na capital, as máquinas serão visitadas no Museu da Imigração, na Mooca, na Associação Portuguesa de Desportos, no Canindé, e na Estação da Luz.
`O poder econômico de São Paulo fez com que as máquinas se concentrassem em maior número aqui. Quando as empresas ferroviárias fecharam, os fazendeiros da cana-de-açúcar e do café compraram as máquinas e levaram para suas estradas particulares. No restante do Brasil, não havia tanta riqueza`, diz Mártire.
Equipes do projeto já percorreram os Estados do Rio, Espírito Santo e Minas, onde foram registradas 70 locomotivas a vapor.
A mais antiga, a Baronesa, datada de 1953, está no Museu Ferroviário do Engenho de Dentro, no Rio. `Quando se contextualiza cada uma dessas máquinas dentro dos ciclos econômicos e da situação mundial da época é que se vê sua importância para o desenvolvimento do País`, afirma Vermelho.
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