A trading coreana Asila saiu na frente na disputa pela Novoeste Brasil, o corredor ferroviário de bitola estreita que corta o Mato Grosso do Sul e chega a Santos. Apresentou a melhor das quatro ofertas de compra da empresa, mas sua proposta é seguida de muito perto pelos chineses da Jianscsu Zhongye, grupo asiático do setor siderúrgico e de manganês. Conforme apurou ontem o Valor, a companhia boliviana de capital americano Ferrocarril Oriental e a brasileira ALL ficaram na lanterninha da briga pela Novoeste.
Segundo fontes que tiveram acesso às propostas de compra, apresentadas na quarta-feira, a maior surpresa é que as ofertas pela Novoeste superaram – não em valor absoluto, mas comparativamente – em muito a oferta feita pela Brasil Ferrovias, composta pelas malhas da Ferronorte e da Ferroban, ambas de bitola larga. Isso contraria a previsão do mercado, que muitas vezes se refere à Novoeste como o “patinho feio” do grupo e esperava concorrência acirrada pela corredor de bitola larga. A ALL foi a única a entregar proposta para esse corredor, mas não entusiasmou os acionistas.
Para levar os dois corredores juntos, condição que impôs para validar suas propostas individuais, a ALL precisará melhorar o valor que pretende pagar pela compra das empresas, disse uma fonte que participa ativamente do processo. Ao mesmo tempo em que as ofertas pela Novoeste foram recebidas com relativa surpresa, a ausência de competição pelas malhas de Ferronorte e da Ferroban pode fazer com que os principais acionistas – BNDES, Previ e Funcef – revejam a abrangência do negócio.
Para eles, a melhor notícia até o momento é que a Novoeste não vai “micar” e já tem sua venda praticamente garantida. O que explica a agressividade dos coreanos é que eles atualmente precisam chegar ao porto de Santos para escoar a produção de matérias-primas destinadas à sua indústria. A carga passa pelo Canal do Panamá e segue em direção à Ásia. Com a eventual aquisição da Novoeste, poderão carregar os produtos até a fronteira com Bolívia, integrando no médio prazo a logística com as ferrovias do país e chilenas, atingindo o porto de Antofagasta, no Chile. Isso daria nova opção de frete de menor custo via Pacífico.
A ofensiva dos chineses se justifica pelo interesse do grupo Jianscsu Zhongye na mina de Urucum, em Corumbá (SP) com reservas estimadas em 22 milhões de toneladas de minério de ferro e 7 milhões de toneladas de manganês.
A concretização do negócio agora depende do quanto a ALL vai querer avançar na sua proposta. Segundo as fontes ouvidas pelo Valor, ela será procurada para melhorar o valor oferecido pela Novoeste e pela Brasil Ferrovias. Se elevar bastante a oferta por Ferronorte e Ferroban, os acionistas poderão aceitar um preço menor pelo corredor de bitola estreita. Mas eles já chegaram a uma conclusão: a venda da Novoeste Brasil pode ser feita separadamente, deixando para nova fase a Brasil Ferrovias, tida como “filé mignon”. Essa possibilidade começa a ganhar força.
Pela manhã, em audiência pública na Comissão de Infra-Estrutura do Senado, o presidente do conselho do grupo Brasil Ferrovias, Guilherme Lacerda, afirmou que os acionistas querem concretizar a venda até o fim de abril. Mas isso, sublinhou o executivo, só se as ofertas forem “satisfatórias”.
Se não agradarem, os acionistas não devem ter pressa e a venda pode ser adiada. Ressalvando que falava pela Funcef, que possui 24,5% das ações da Brasil Ferrovias, Lacerda ressaltou: “Se não vendermos agora, vamos vendê-la por mais na frente”, disse. “A empresa tem problemas? Sim, mas tem também potencial enorme e é sob essa premissa que vamos negociar, vendendo o futuro; não o passado.”
O formato de venda separada dos dois ativos – com donos diferentes – agrada a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), que regula o setor. O diretor-geral da ANTT, José Alexandre Resende, disse que o órgão não quer nem pode interferir no processo,
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