O consórcio de nove empresas coreanas liderado pela trading Asila Ásia Marketing Center tenta virar o jogo após ter sido desclassificado na fase inicial do processo de venda do corredor de bitola larga da Brasil Ferrovias. Os coreanos, representados no Brasil por Carlos Ishikiryama, presidente da Agroindústria Kaizen, querem fazer uma nova proposta, abrangendo os dois corredores, operados por Ferronorte e Ferroban (bitola larga) e Novoeste (estreita).
Ishikiryama disse ter enviado carta à Angra Partners, consultoria que conduz a venda manifestando seu interesse, mas informou que não obteve resposta. No processo, a Asila foi habilitada apenas para disputar o corredor de bitola estreito e, em 22 de março, apresentou proposta de cerca de R$ 300 milhões para ficar com os ativos e executar um plano de investimentos na ferrovia. Ferrocarril Oriental, da Bolívia, e a chinesa Jianscsu Zhongye também fizeram ofertas.
Conforme antecipou o Valor esta semana, o processo de venda avançou mais com a América Latina Logística (ALL), que fez proposta pelo conjunto dos ativos, mas ainda não foi firmado um acordo de negociação exclusiva. A Asila ainda continua selecionada para a bitola estreita, podendo retomar negociações caso não se concretize um entendimento com ALL.
Segundo Ishikiryama, as nove empresas do consórcio têm disponibilidade de US$ 2 bilhões que poderão ser aplicados na compra da Novoeste e Brasil Ferrovias e em novos investimentos. Os coreanos garantem que podem igualar ou cobrir a proposta apresentada pela ALL, que ofereceu pouco mais de R$ 1 bilhão pelos dois corredores, segundo apurou o Valor.
Uma fonte envolvida nas negociações da Brasil Ferrovias avaliou que o pedido feito pelos coreanos é equivalente a acabar com o processo, que se encontra agora na fase final. A fonte disse que todo o processo foi estruturado por etapas e incluiu a apresentação de propostas firmes. Para que outras ofertas fossem feitas, seria preciso encerrar o processo em curso. Assim, para que a proposta da Asila fosse considerada uma alternativa, teria que ser consistente e atraente. E a proposta dos coreanos ainda não parece reunir estas condições.
Guilherme Lacerda, presidente da Funcef, o fundo de pensão dos funcionários da Caixa Econômica Federal, que controla a Brasil Ferrovias com Previ e BNDES, disse que os acionistas buscam uma boa oferta pelos ativos, mas esclareceu: “Nosso esforço é para atenuar o prejuízo que essas empresas (três concessionárias) tiveram no passado; por isso, temos que examinar a melhor proposta, observando que ela nos traga segurança. Mas não somos adeptos a ofertas hostis.”
O objetivo dos coreanos é viabilizar com a Novoeste a interligação ferroviária entre os portos de Santos (Brasil), e de Arica ou Antofagasta (Chile). A interligação entre os oceanos Atlântico e Pacífico permitiria reduzir custos no movimento de cargas do complexo soja e de minério na rota da Ásia. Ele disse que o Eximbank coreano teria interesse em financiar o projeto, mas reconheceu que a execução da interligação depende da vontade política dos governos.
O executivo, cuja empresa tem projeto de esmagamento de soja em Mato Grosso, disse que se a Asila vencer a disputa pelos ativos outras empresas na Coréia se unirão ao consórcio. Hoje, fazem parte do grupo a KRTC, a SLC (fabricante de vagões e trens), Rothen (equipamentos ferroviários), Hahan Engineering e Top Center Vision, construtoras e fornecedoras de trilhos.
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