Aos 65 anos, o jundiaiense João Bezutti Netto, emociona-se ao lembrar da profissão que reflete a história de sua vida. Em comum, os ferroviários espalhados pelo País – aposentados ou não – têm a paixão pelo complexo ferroviário e a tristeza em ver grande parte dele, sucateado. No dia da categoria, comemorado hoje, o maior sonho dos ferroviários é o de ver as ferrovias revitalizadas. Esta é a grande bandeira defendida pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias Paulistas.
“Só no Brasil as ferrovias estão em situação de abandono. Trata-se de um meio de transporte seguro que barateia o frete e abre o mercado. Nos países desenvolvidos, o transporte ferroviário se integra a outros meios no sistema multimodal”, avaliou o presidente do sindicato, com sede em Campinas, Waldemar Raffa. Para ele, que tem orgulho de ter sido ferroviário, é necessário que o transporte por meio dos trens seja novamente valorizado e utilizado. “As rodovias estão saturadas e com a privatização, os fretes se tornaram muito caros.”
Contratado pela Companhia Paulista de Estradas de Ferro, em 1965, como praticante, Raffa deve aos “paralelos de aços” grande parte de suas conquistas, inclusive financeiras. “Formei minha família e eduquei meus filhos. Os ferroviários fizeram história no nosso País e espero que ela(a categoria) nunca seja esquecida.”
O presidente do clube Grêmio CP, João Bezutti Netto, salientou a participação dos ferroviários em Jundiaí. “Fundamos o Grêmio, o clube Esportiva e o Gabinete de Leitura. Eram os ferroviários também que acertavam os relógios das torres das igrejas.” Ele lembra com carinho dos tempos áureos da profissão, símbolo de status na cidade que trazia consigo alguns privilégios dentro e fora da Companhia. “Para arrumar namorada era bom, porque quando falava para o pai da menina que era ferroviário, ele deixava namorar. Outra coisa boa era no comércio. Era só contar que era ferroviário, que o crédito era livre”, ri. Quando viajavam de trens, os ferroviários tinham direito ao “carro puma” – vagões com poltronas confortáveis e reclináveis (como se fosse primeira classe), “carro dormitório” (vagões com leitos) ou podiam, ainda, entrar na locomotiva (cabine do trem). “Jundiaí respirava a ferrovia. Muitas cidades do interior foram fundadas pela passagem dos trens.”
Carreira – Aos 12 anos, Bezutti entrou no já extinto Senai Ferroviário da Companhia Paulista. De lá, seguiu carreira e se aposentou 30 anos depois. Foi eletricista de manutenção de locomotiva a diesel. “Era uma profissão boa. Tenho muitas saudades. Prestei serviço nas cidades de Campinas, Cordeirópolis, São Carlos, Rincão, Bauru, Marília e Bebedouro, além de Jundiaí. Fiz curso de aperfeiçoamento em Sorocaba e muitos amigos pelos lugares onde passei. Quando o telefone tocava na minha seção, já sabia que tinha de viajar. Dava gosto trabalhar na Companhia.”
Para amenizar a saudade, Bezutti pretende aceitar o convite de um amigo de profissão e partir em uma viagem de trem de Belo Horizonte com destino a Vitória. Sempre que pode ele também vai até Jaguaríuna. Na estação, ele embarca na Maria Fumaça até a cidade de Campinas. No trajeto, em meio aos pés de café e muito verde, as lembranças de um tempo que não voltará, o acompanham.
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