Cerca de 30% da rede ferroviária de Ribeirão está em completo abandono. Dos 69 quilômetros de trilhos que passam pela cidade, 21,5 não servem mais como rotas para os trens há pelo menos uma década. Estão desativados, rodeados de muito entulho, com alguns pontos cobertos completamente pelo mato, ou ocupados no seu entorno por um grande número de barracos.
Um dos trechos mais críticos é o que liga Ribeirão Preto a Sertãozinho, partindo do entroncamento das avenidas Dom Pedro I e Via Norte. A Gazeta esteve na manhã de sexta-feira naquela região. O cenário é de tanto abandono que, em muitas ruas, o asfalto cobriu os trilhos. Próximo à favela do SBT, a reportagem localizou lixo, galhos jogados sobre a linha e passagens interrompidas pelas moradias.
O porteiro Nilton César Moreira, que mora ao lado da favela, diz que, desde quando mudou para lá, há oito anos, não presenciou nenhum transporte de carga pela ferrovia. Ele afirma que, com a ajuda dos vizinhos, tem procurado evitar que novos trechos sejam ocupados pelos barracos. Estamos plantado árvores nas margens da ferrovia para impedir mais ocupações. Se não tomarmos uma atitude, quem vai tomar? Isso aqui está completamente esquecido, reclama.
A FCA (Ferrovia Centro-Atlântica), concessionária responsável pela rede ferroviária de Ribeirão Preto, alega que quando passou a administrar as linhas da cidade, os trechos com problemas já estavam abandonados. Antes disso, a responsabilidade era do governo federal e, após a privatização do setor em meados da década de 90, passou à Ferroban (Ferrovias Bandeirantes S/A).
A FCA informa que mantém tráfego, transportando álcool, para Brasília, Goiânia, Governador Valadares e Vitória, e açúcar, para Santos. Segundo a empresa, que em Ribeirão emprega 100 funcionários, os 47,5 quilômetros trafegáveis da cidade ainda estão em bom estado de conservação e operam normalmente.
Os carregamentos de açúcar, aliás, podem ser, para o especialista em transporte ferroviário Augusto Hauber Gameiro – professor da USP de Pirassununga e membro do grupo de pesquisa e extensão em logística agroindustrial da Esalq, em Piracicaba – uma esperança de estímulo para Ribeirão, mesmo com o setor em dificuldades.
Grupo tenta criar projeto
Liderado pelo engenheiro Marcos Andrade, um grupo de Campinas tenta, há 12 anos, implantar um projeto para desenvolver novos medicamentos a partir de plantas medicinais num ramal ferroviário que vai de Ribeirão Preto a Itaú de Minas, em grande parte coberto pelo mato.
Andrade explica que o solo às margens dos trilhos é praticamente virgem – não recebe defensivos ou adubos. Para sobreviver a essas condições, plantas e insetos têm de desenvolver substâncias de defesa. Extraídas, essas substâncias podem se usadas como princípios ativos de novos remédios.
O grupo pretende plantar espécies diferentes de vegetais ao longo da malha para observar o comportamento de cada uma. O projeto teria como base de apoio um laboratório, que seria construído numa estação abandonada em Serrana. Outra idéia é instalar uma ´escola da terra´ para ensinar a cultivar alimentos sem agrotóxicos. (Gazeta de Ribeirão)
Especialista prevê avanços
O professor Augusto Gameiro explica que vários trechos de linhas férreas estão abandonados porque sua manutenção é cara e nunca foi prioridade do governo federal. Em meados da década de 90, a rede ferroviária do país foi privatizada, mas, de acordo com Gameiro, as concessionárias não estavam preparadas para assumir as dificuldades que viriam pela frente. Até dois anos atrás, o setor quase não recebeu investimentos, o que explica o fato de grande parte d
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