Uma das críticas mais contumazes ao governo Lula diz respeito ao ritmo modesto de investimentos em infra-estrutura. Em pouco mais de três anos, não foi feita nenhuma grande obra de energia, as concessões de estradas foram interrompidas e as Parcerias Público-Privadas, que seriam a panacéia geral, ainda engatinham. Agora, há um sinal positivo no horizonte. Os responsáveis são os executivos Guilherme Lacerda, que preside a Funcef, fundo de pensão da Caixa Econômica Federal, e Wagner Pinheiro, da Petros, fundação da Petrobras.
Os dois acabam de amarrar as últimas pontas do Infra Brasil, um fundo de R$ 600 milhões, que será capitalizado pelas fundações e administrado pelo ABN-Amro, escolhido entre oito bancos de investimento. A idéia é financiar a construção de rodovias, ferrovias, portos, gasodutos e oleodutos. “São investimentos de baixo risco e de retorno constante”, disse à DINHEIRO Guilherme Lacerda, da Funcef. Os recursos do Infra Brasil serão repassados ao setor privado a uma taxa entre 11% e 14% ao ano, bem próxima à do BNDES. A diferença é o prazo. A idéia da Funcef e da Petros é emprestar o dinheiro com prazos de até 15 anos. “Isso é bom também para as empresas nas quais já somos acionistas”, reforça Wagner Pinheiro, da Petros. “A Perdigão, por exemplo, precisa de portos para alavancar suas exportações”.
A expectativa dos presidentes da Funcef e da Petros é que o Infra Brasil seja lançado em maio, tão logo o patrimônio atinja os R$ 600 milhões necessários. A partir daí o Infra Brasil financiará os projetos por meio da compra de debêntures – e 30% delas serão conversíveis em ações. Além disso, os fundos de pensão só estão de olho em grandes obras. O valor mínimo para o financiamento será de 10% do valor da carteira, ou seja, inicialmente, só serão bancados projetos acima de R$ 60 milhões. Por trás desse movimento, há também uma mudança estratégica no enfoque dos fundos. Hoje, eles são os maiores detentores de títulos públicos federais e possuem 65% do passivo nacional. “Queremos migrar desse passivo para o financiamento do investimento”, diz Lacerda, da Funcef. Um fator que os leva nessa direção é o cenário de queda dos juros. “Precisamos encontrar alternativas mais rentáveis e temos uma vantagem, que é a de não precisarmos de liquidez imediata”, completa. Antes que o Infra Brasil ficasse pronto, os fundos participaram de debates de 18 meses com o governo federal, as indústrias de base e o Banco Interamericano de Desenvolvimento – o BID deverá entrar com até US$ 75 milhões e também com a sua experiência na gestão de fundos dessa natureza.
Além do Infra Brasil, os fundos de pensão estão participando de outros projetos na área de infra-estrutura. Eles já decidiram capitalizar o Fundo AG Angra, feito em parceria com a construtora Andrade Gutierrez e a consultoria Angra Partners, que terá cerca de R$ 500 milhões. Funcef e Petros, que têm patrimônio de R$ 51 bilhões, também se uniram à Previ, o fundo do Banco do Brasil, para criar o Logística Brasil, que deverá ter outros R$ 400 milhões. Tais iniciativas, de certa forma, podem ajudar a melhorar a imagem das fundações estatais, que estiveram associadas a diversos escândalos nos últimos anos e foram alvo de longas investigações da CPMI dos Correios.
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