O setor de ferrovias comemora dez anos da primeira privatização com o nascimento da maior empresa ferroviária da América Latina (a ALL) e com a perspectiva de que os projetos de expansão da malha, enfim, saiam do papel e desafoguem os portos do Sul e Sudeste. A expectativa é que, no dia 6, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva dê o pontapé inicial à construção da Transnordestina, nos Estados do Piauí, Ceará e Pernambuco.
A ferrovia, de R$ 4,5 bilhões, será construída pela Companhia Ferroviária Nacional (CFN), além de recursos do Fundo de Investimento do Nordeste (Finor) e do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE).
Já a Norte-Sul, que teve trechos inaugurados na semana passada por Lula, deverá repassar algumas áreas para a iniciativa privada construir, como é o caso de Açailândia (MA)-Palmas (TO). A ferrovia, de 1.550 km, vai cortar os Estados do Goiás, Tocantins, Maranhão e Pará e dar nova opção para escoar a produção de soja através dos portos do Norte e do Nordeste.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
Outro projeto é o Trem Bala entre São Paulo e Rio de Janeiro, que prevê investimentos de US$ 9 bilhões. Dois grupos fizeram propostas de modelagem técnica e financeira do projeto: a Italplan Engeneering, Environment & Transports e o consórcio formado por Siemens, Odebrecht e Interglobal. O trem teria capacidade para alcançar até 330 km/h por hora e transportar até 855 passageiros por viagem. De acordo com dados do mercado, a passagem custaria cerca de US$ 50.
Gigante – Além dos projetos de expansão, o setor vive um momento de grandes mudanças, concentração e novo desenho acionário. A compra dos ativos da Brasil Ferrovias (Novoeste, Ferroban e Ferronorte) no início deste mês pela ALL deu origem a uma gigante ferroviária, dona de 20.495 km de extensão – 11.283 km no Brasil e 9.212 km, na Argentina.
A operação concentrou o setor nas mãos de três grandes companhias: ALL (GP Investimentos, Judori e BNDES), Companhia Vale do Rio Doce e Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). As duas últimas são acionistas da MRS Logística – uma importante ferrovia que movimenta cerca de 45 bilhões de toneladas por quilômetro útil (TKU) e tem acesso aos portos de Santos (SP), Sepetiba (RJ), Rio de Janeiro e Guaíba (RJ).
A compra da BF também deu novo ânimo ao setor, que espera o avanço dos investimentos na capacidade de transporte de grãos entre as regiões Centro-Oeste e Sudeste. Como ela estava em situação falimentar, os investimentos foram comprometidos nos últimos anos. Situação que deve mudar com a nova administração, avaliam especialistas da área.
Segundo o diretor da ALL, Sérgio Pedreira, a expectativa é investir entre R$ 150 milhões e R$ 200 milhões na Brasil Ferrovias neste ano, recuperando 3.200 vagões de uma frota morta. No total, o grupo vai investir cerca de R$ 500 milhões para expandir as operações no Brasil. Deste montante, espera-se que R$ 200 milhões sejam injetados pelos clientes, que compram vagões e locomotivas para uso próprio.
Segundo dados do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre), no estudo intitulado Dez anos de Privatização, com os investimentos feitos nos últimos anos, a ALL conseguiu elevar em 111% o volume transportado, de 6,847 bilhões de toneladas por quilômetro útil (TKU) para 14,450 bilhões de TKU. Agora, com a Brasil Ferrovia, o número será elevado em 10,872 bilhões de TKU.
Mas esse volume pode ser ampliado facilmente, afirma Pedreira, da ALL. Segundo ele, no agronegócio, as empresas usam o limite da ferrovia e transportam o resto por rodovia. Ou seja, com um maior número de locomotivas e vagões, a capacidade pode ser elevada. É o que esperam os clientes da Brasil Ferrovias.
Segundo o vice-presidente da Caramuru, César Borges de Sousa, um dos principais clientes e sócio da concessionária no Armazém 39, no Porto de Santos, do ponto de vista de operação a Brasil Ferrovias deixava muito a desejar.
Seja o primeiro a comentar