Apenas um mês depois de comprar a Brasil Ferrovias e a Novoeste do Brasil, a América Latina Logística (ALL) anunciou ontem a demissão de 1.500 funcionários. Somente em Bauru, 108 foram cortados de um total de 330 ferroviários. A redução de quase 33% do quadro local é próxima ao corte geral, que chega a 35% dos 4.300 trabalhadores – locados nos Estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul.
“A decisão leva em conta a necessidade de implantar um modelo para recuperação da empresa que estabeleça condições reais de crescimento, buscando assegurar o emprego daqueles que nela permanecem e viabilizar investimentos”, justifica o atual presidente da Brasil Ferrovias, Pedro Roberto Almeida, por meio de nota enviada à imprensa.
A partir das demissões, a ALL espera eliminar cargos duplicados e proceder uma reestruturação no modo operacional, informa a assessoria de imprensa. “A ferrovia está no total abandono. Essa administração acha que os trens vão levitar e que vão ser controlados por controle remoto”, ironiza Waldemar Raffa, presidente licenciado do Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Paulista.
Mas para a ALL, as demissões nas áreas administrativas e operacionais integram um projeto de reestruturação que ainda prevê remodelação operacional, alterações no setor de mecânica e na via permanente, além da implantação de uma gestão voltada para resultados e redução de custos.
Terceirização
“A empresa, por característica, usa muito trabalho terceirizado. Não sei como conseguiu demitir tanto. Já deve ter uma terceirizada engatilhada”, comenta Roberval Duarte Placce, diretor do Sindicato dos Ferroviários de Bauru, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. À reportagem, a ALL não descarta a possibilidade de contratar mão-de-obra terceirizada.
De acordo com a assessoria de imprensa, é possível, inclusive, que sejam feitos negócios com eventuais empresas compostas por ex-funcionários. No entanto, de acordo com Placce, uma decisão judicial em primeira instância proíbe a terceirização. “Estão desrespeitando a Justiça. A gente está em campanha salarial e vai procurar resistir”, diz.
Uma eventual greve não foi descartada pelo sindicato num futuro próximo. A esperança da empresa é de que a paralisação não seja decretada. A companhia enxerga as demissões como alternativa para recuperação financeira da recém-adquirida empresa e manutenção das vagas remanescentes.
Já quem saiu e foi contratado pela antiga Fepasa receberá indenização extra, prevista em acordo coletivo e contrato de trabalho individual. Em todos casos os direitos trabalhistas estão garantidos e as rescisões serão pagas integralmente, informa a ALL.
Desenho operacional
A ALL também promoverá uma remodelação operacional. A partir do projeto, serão criadas seis unidades de produção, que ficarão nas cidades de Campo Grande (MS), Alto Araguaia (MT), Araraquara, Bauru, Campinas e Santos, no Estado de São Paulo.
Já as oficinas em Rio Claro, Sorocaba, Araraquara e Campinas – com postos de manutenção em Sorocaba, Bauru, Paratinga, Três Lagoas, Campo Grande, Corumbá, Santos, Araraquara e Alto Taquari – serão mantidas.
Os funcionários são representados por duas entidades de classe. Um deles é o Sindicato dos Ferroviários de Bauru, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, que representa os contratados da antiga Novoeste. Já os que foram admitidos pela Fepasa, (dada em concessão para Ferroban, que integra o grupo Brasil Ferrovias), são representados pelo Sindicato dos Trabalhadores em Empresas Ferroviárias da Zona Paulista.
A malha da Brasil Ferrovias é formada pelas concessões Ferronorte e Ferroban e cobre três Estados – São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, numa extensão total de 4,7 mil quilômetros.
Já a Novoeste Brasil, privatizada em 1996, tem malha de 1.621 quilômetros. Opera em bitola estreita e liga Corumbá e Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul,
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