Desde que nasceu, Lindemberg, de 12 anos, mora nas proximidades da linha férrea na Comunidade do “S”, no bairro do Róger, em João Pessoa. O menino vive uma rotina comum à de tantas outras crianças que habitam essas áreas consideradas de risco. Brinca perto da ferrovia e espera a passagem de cada trem para poder ir para a escola e visitar os tios que moram do outro lado dos trilhos. Os perigos de um acidente no caso de Lindemberg são ainda mais reais pelo fato dele ser surdo mudo.
A mãe do menino, Josefa Sancléia, diz ficar em estado de atenção permanente, principalmente depois que ele quase foi vítima de um atropelamento. “Quando tinha 8 anos, faltou muito pouco para o trem pegá-lo. Ao atravessar, o maquinista apitou e pela deficiência auditiva, ele não escutou. A sorte foi que ele sentiu a trepidação dos trilhos e conseguiu correr a tempo”, lembra. Josefa destaca que mesmo não gostando mora perto da linha férrea por necessidade e porque não tem para onde ir. “Eu tenho muito medo, mas vou fazer o quê?”, pergunta.
De acordo com um levantamento divulgado pela Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários (ANTF), a Paraíba ocupa o terceiro lugar no número de invasões junto às ferrovias (39). O primeiro e o segundo lugares ficam respectivamente com o Paraná (104) e Pernambuco (52).Para o superintendente da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) na Paraíba, Lucélio Cartaxo, a razão das famílias mais carentes procurarem as regiões circunvizinhas das estradas de ferro se deve a um problema estrutural de déficit habitacional, que não atinge somente a Paraíba. “É uma situação histórica, que vem se perpetuando ao longo do tempo. Essas moradias são ocasionadas por vários fatores envolvidos com a exclusão social”, destaca ele.
Josefa Sancléia enfatiza que também por possuir um pequeno comércio na frente de sua casa, através do qual sustenta a família, composta além de Lindemberg, pelo marido e por um filho de 16 anos, não tem como deixar o local onde mora.
As comunidades lindeiras, como são chamados os conglomerados localizados à beira da linha, têm maior concentração no trecho que corta o município de Bayeux, como informa o gerente operacional da CBTU, Amauri Gomes. Ele ressalta que em razão do sistema operacional utilizado em João Pessoa, da mesma forma como ocorre nas cidades de Natal e Macéio, não ter segregação, ou seja, não ser murado, há uma vulnerabilidade maior para que ocorram essas construções irregulares. “É um sistema antigo, que tem a maior parte dos 30 quilômetros de extensão abertos, diferente do que ocorre nos metrôs de superfície, que ficam completamente isolados”, afirma.
CBTU diz que relocação é inviável
Segundo o superintendente da CBTU, as construções antigas não podem ser retiradas desses locais, uma vez que só podem ser feitas através da execução de projetos que contemplem a relocação dessas famílias e por meio de processos judiciais. “Existem pessoas que estão nestes locais há 20 ou 30 anos e não temos como derrubar estas casas”, informou ele.
A companhia, como afirma Lucélio, realiza um trabalho preventivo no sentido de evitar que novas casas sejam construídas próximas à ferrovia. “Combatemos constantemente essas novas moradias, como forma de evitar que o problema se agrave”,diz.
O supervisor de segurança da CBTU, Paulo Brito, conta que ele e sua equipe composta de três pessoas fazem rondas periódicas pela via férrea, quando tiram fotos e procuram detectar se há indício do começo de alguma construção. “Normalmente tentam fazer as invasões nos finais de semana e feriados, mas conseguimos impedir, pois os funcionários da empresa e os moradores mais antigos nos avisam”. Ele ressalta que como são construções rudimentares feitas de taipa e ainda no início são facilmente retiradas.
Brito destaca que há um trabalho de orientação e explicação sobre a impossibilidade de instalação na região. “Dizemos que por se tratar de patri
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