Para dar continuidade ao crescimento do setor ferroviário, que aumentou o volume de carga transportada em 55% nos últimos dez anos, as concessionárias vão investir R$ 2,35 bilhões até o final deste ano. Com a compra de 4 mil novos vagões e investimentos em tecnologia, a previsão é que o volume transportado cresça até 11% em 2006, chegando a 435,7 milhões de toneladas, segundo a associação do setor, a ANTF.
Desde 1996, quando teve início o processo de privatização da malha, as empresas injetaram R$ 9,5 bilhões no setor. O governo investiu R$ 500 milhões no período. Com isso, a produtividade aumentou 62%: há dez anos, eram transportadas 137 bilhões de toneladas por quilômetro (TKU), número que saltou para 221,9 bilhões. Para este ano, a expectativa é atingir 245 bilhões de TKUs.
Parte do ganho deveu-se ao aumento do transporte ferroviário de novos tipos de carga, como cimento, bens de consumo, autopeças e papel. Mesmo assim, a carga dos setores de siderurgia, mineração e agricultura continuam a representar o maior volume transportado. O transporte de minério e carvão cresceu 55% nos últimos dez anos, enquanto as demais aumentaram 85%, segundo a ANTF, que reúne grandes empresas como a ALL, a MRS e a Vale do Rio Doce.
Estes avanços permitiram o aumento da participação deste tipo de transporte na matriz brasileira de 19% para 26%. O objetivo das empresas é atingir uma participação de 35% nos próximos dez anos, mais próximo da média internacional, de 42%. Para que isso ocorra, no entanto, os investimentos privados não serão suficientes, segundo Mauro Dias, presidente da ANTF. O setor está esbarrando em questões que devem ser solucionadas pelo governo, afirmou o executivo, que também é presidente da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), controlada pela Vale.
Questões como invasões nas faixas de domínio das concessionárias, a expansão da malha e os passivos ambientais e trabalhistas ainda precisam de definições e investimentos do governo, segundo Dias. Outra questão crítica, segundo ele, são os pontos de cruzamento de ruas ou outros obstáculos com as linhas férreas, em que os trens precisam reduzir a velocidade. De acordo com dados da associação, existe um ponto a cada 2,3 quilômetros, o que exigiria investimentos de quase R$ 400 milhões para melhorar as condições de circulação. Trechos com rampas e curvas acentuadas, construídos há muitas décadas, também obrigam a redução de velocidade.
Um importante desafio para os próximos anos, segundo Dias, é aumentar a intermodalidade, ou seja, o uso de trens combinado com outro tipo de transporte. Hoje, ela ainda é incipiente, segundo a ANTF, transportando 190 mil TEUs (cointêineres de 20 pés), mas é superior ao volume de 1997, quando foram transportados apenas 8,69 mil TEUs de forma intermodal.
O executivo disse que a definição sobre o ressarcimento dos investimentos feitos pelas concessionárias nos últimos dez anos será decisivo para a continuidade dos aportes. Quando o final das concessões se aproximar, os investimentos podem cair caso o governo não defina o ressarcimento às empresas, disse. As concessões duram 30 anos e são renováveis. Desde 1996, as empresas faturaram R$ 11,6 bilhões.
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