O presidente Lula pretende convencer o eleitor de que os fracassos de seu governo são um sucesso. Nesta segunda-feira, no programa de rádio Café com o Presidente, comemorou a construção de 150 quilômetros da Ferrovia Norte-Sul, que pretende inaugurar em outubro. Se os próximos presidentes mantiverem o ritmo petista de investir, a obra estará concluída em exatos 31,6 anos.
A conta é simples: a ferrovia tem 1.550 quilômetros; até outubro estarão prontos 365 quilômetros, dos quais 150 foram construídos nos quatro anos de governo Lula; a máquina de governar do PT plantou, em média, 37,5 quilômetros de trilhos por ano de governo; portanto, para terminar os 1.185 quilômetros restantes, seria preciso esperar mais de três décadas. E olha que essa obra é considerada um dos “eixos fundamentais” para o desenvolvimento do país.
Lula considera o desempenho excepcional porque seus antecessores foram ainda mais devagar. “A Ferrovia Norte-Sul começou com o presidente Sarney, em 1987. De 1987 a 2003, foram construídos 215 quilômetros. Nós, em outubro, vamos inaugurar 150 quilômetros”, contou, orgulhoso, o presidente no rádio.
Queda dos investimentos
O exemplo escolhido por Lula constata o tamanho da displicência com que os governantes de plantão, do PT, do PSDB e do PMDB, trataram a infra-estrutura do país. Esconde, no entanto, que os petistas têm, na verdade, um desempenho pior. Dados agregados do Orçamento mostram que durante a gestão do PT os investimentos públicos federais definharam e alcançaram os níveis mais baixos das últimas duas décadas e meia.
Reportagem publicada pelo Estado de S. Paulo, em dezembro do ano passado, afirmava que Lula começava 2006 com a média de R$ 11,6 bilhões de investimentos por ano, a mais baixa desde 1980. O segundo colocado foi o presidente João Figueiredo, com R$ 12,5 bilhões. Os dados foram corrigidos pelo IGP-DI para permitir comparações. O governo FHC, que não é nenhum exemplo de sucesso no quesito infra-estrutura, investiu em média R$ 17,5 bilhões.
Em fevereiro deste ano, artigo de Fabio Giambiagi revela que o investimento da era Lula também era menor que o de FHC quando comparado com o PIB. O tucano investiu, em média, 0,90% do PIB no segundo mandato. Lula, estima o economista, investirá cerca de 0,70%.
Campanha e promessas
Nesta terça-feira, o presidente Lula não usou estatísticas para fazer campanha, mas a imagem de inauguração do marco zero da Ferrovia Transnordestina, outra das prioridades sempre adiadas do país. Consta do primeiro Plano Plurianual elaborado pelo governo FHC, em 1996.
O presidente do Conselho de Infra-estrutura da Confederação Nacional da Indústria (CNI), José de Freitas Mascarenhas, alerta que, no momento, seria mais produtivo recuperar a infra-estrutura existente do que ampliar as redes de transporte com obras caras. Menciona especificamente a necessidade de investir R$ 1 bilhão em obras para permitir que os trens possam trafegar com maior velocidade nas áreas urbanas.
Sobre a Norte-Sul e a Transnordestina faz um alerta: “Essas novas obras são custosas em termos de investimentos e dificilmente terão recursos para a sua conclusão. Continuarão naquele esquema de cada ano faz um pouquinho”. Mas, em ano de campanha, mais vale inaugurar o marco zero do que ser cobrado por não ter realizado os compromissos assumidos em público.
Para quem não se lembra, em 2004, Guido Mantega, na época ministro do Planejamento, anunciava que o país precisava de R$ 191,4 bilhões de investimento em infra-estrutura no período de 2004 a 2007. O valor incluía os aportes privados, que, segundo o governo, seriam multiplicados graças ao inovador sistema de Parceiras Público-Privadas, as PPPs. Até hoje não foi celebrada nenhuma PPP. E o governo investiu diretamente menos que seus antecessores.
Na ausência de obras para inaugurar, Lula faz novas promessas, desta vez com direito a pedras fundamentais.
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