A Presidência da República confirmou ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará uma viagem à cidade de Missão Velha, no interior do Ceará, a cerca de 100 quilômetros da divisa com Pernambuco, para anunciar o início das obras da ferrovia Transnordestina. A obra foi apresentada no início do governo Lula como uma dos projetos estratégicos da gestão, mas sofreu diversos adiamentos, depois de ter sido também objeto de promessa eleitoral.
O anúncio do início da obra vem no limite da legislação eleitoral, que proíbe aos candidatos em cargos oficiais de participarem de inaugurações e eventos oficiais três meses antes das eleições. A programação do evento não foi fornecida, mas espera-se uma solenidade política. O Ceará é a terra do ex-ministro Ciro Gomes (PPS), que fez diversas gestões a frente da pasta para usar fundos regionais para financiar a obra, legalmente considerada privada.
No traçado da nova ferrovia, elaborado pela Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), Missão Velha é a primeira cidade cearense a receber a ampliação e modernização dos trilhos. Quando estiver pronta, a linha fará a ligação com Salgueiro, em Pernambuco, formando a bifurcação dos dois ramais que farão o escoamento da produção de grãos da nova fronteira agrícola do Nordeste para os portos de Suape, em Pernambuco, e Pecém, no Ceará.
A obra custará cerca de R$ 4,5 bilhões do governo federal, sendo arcada em sua maioria com recursos públicos. A concessionária CFN está sendo solicitada a investir cerca de R$ 500 milhões, em recursos próprios, mas a maior parte do dinheiro virá de fundos como Fundo de Investimentos do Nordeste (Finor) e Fundo de Desenvolvimento do Nordeste (FDNE), curiosamente criado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, quando da extinção da Sudene, em 2001.
Objeto da série de reportagens do JC Um Novo Nordeste, sobre a nova fronteira agrícola e a Transnordestina – publicada entre 14 e 20 de maio – a obra tem o objetivo de criar um novo corredor de exportação, a partir do Nordeste. Hoje, o escoamento da produção dos cerrados nordestinos até os consumidores do Nordeste e para os portos, visando às exportações, sofre com entraves de cunho logístico. A rede ferroviária é reduzida e carece de interligações fundamentais para o desenvolvimento da região.
Hoje, a produção de soja para exportação sai pelo Porto de Ilhéus, no caso da Bahia, e pelo Porto de Itaqui, no caso do Maranhão.
Seja o primeiro a comentar