O presidente Luís Inácio da Silva disse ontem, em discurso na solenidade que marcou o início das obras da Transnordestina, que a ferrovia vai ser a redenção do Nordeste. “A Transnordestina é o começo de um novo Nordeste. Atrás da ferrovia, vai vir muito mais desenvolvimento, porque o Nordeste não precisa apenas de turismo, precisa de mais indústrias e de uma agricultura forte. Por isto, ela é de uma infra-estrutura extraordinária”, afirmou, fazendo referência à série de reportagens Um novo Nordeste, que o JC publicou, entre os dias 14 e 20 de maio. Com um custo total de R$ 4,5 bilhões, a ferrovia terá, ao todo, 1.860 quilômetros e vai ligar o Sertão nordestino aos portos de Suape e Pecém, no Ceará.
Na parte final do seu discurso, o presidente Lula fez alusão a um dos seus slogans de campanha, de 2002. “A obra da Transnordestina vai transportar a esperança do Nordeste brasileiro, com a ajuda de Padre Cícero. E tem muita coisa para acontecer e podem ficar certos de que elas vão acontecer, para o Nordeste deixar de ser a região mais pobre do País”, prometeu, mais uma vez.
Lula reclamou das dificuldades para tirar a obra do papel. “O sofrimento foi grande. Foram quase três anos. Um dia a gente acertava tudo e no outro faltava dinheiro. Quando a gente arrumava dinheiro, faltava mais. Quando o dinheiro era arrumado, era uma lei que era contra, proibindo, mas como nordestino, coloquei isto como uma questão de honra.”
Na cerimônia, como era de se esperar, Lula atribuiu o lançamento da obra ao esforço do ex-ministro da Integração Nacional Ciro Gomes (PPS/CE). “Não deixei a obra nas mãos do Ministério dos Transportes porque era para fazer uma homenagem ao Ciro Gomes”, revelou. Numa viagem de trem de pouco mais de sete quilômetros entre o canteiro de obras e a cidade de Missão Velha, o presidente já havia brincado com o ex-ministro. “Ciro, o filho nasceu, está andando e já podemos curti-lo nós dois.”
No evento, Lula disse que, por essas razões, o dia de ontem era histórico para o Nordeste. “Porque, tenham certeza, se dependesse de um certo tipo de político, tudo isto iria para outras regiões e o Nordeste continuaria esquecido”, comparou, em um autoelogio.
Lula também disse que a obra iria beneficiar todo o Nordeste. “Hoje, o que estamos construindo é uma espinha dorsal de um ser humano, que vai ligar as demais partes do corpo, afirmou, citando argumentação apresentada momentos antes pelos executivos da Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), na apresentação feita na viagem de trem. Lula também citou vários dados divulgados pela empresa, como a melhoria da velocidade comercial, de 15 quilômetros por hora para 80 quilômetros por hora, bem como a capacidade de movimentação anual, de 1,5 milhão de toneladas por ano hoje para 30 milhões de toneladas por ano a partir de 2010. “Com isto, haverá redução dos custos de operação e os produtores poderão aumentar seus lucros, ajudando a gerar mais empregos”, observou.
Antes da solenidade oficial, na viagem de trem, Lula declarou que a ferrovia é uma obra para o futuro. “A obra nos ajuda a sonhar com o Nordeste daqui a 15 ou 20 anos. Vamos ter no Nordeste igualdade de condições com as outras regiões deste País, nem melhor nem pior, apenas igual, para podermos recuperar o tempo perdido. A partir de agora só vamos colher coisas boas no Nordeste” disse. “O nordestino já tem boa estrutura portuária e agora vai ter condições de produzir. Ninguém vai poder dizer que não pode produzir porque não tem infra-estrutura no Nordeste.”
Apesar de falar no tempo presente, como pretendendo atrair para já os efeitos positivos da obra, o projeto tem prazo de conclusão estimado em quatro anos. O primeiro trecho não ficará pronto antes de um ano e meio.
HISTÓRICO – O Brasil ainda era Império na primeira vez que um governante pensou em fazer uma ferrovia que ligasse o interior do Nordeste ao litoral. Daí em diante, foram feitas vários promess
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