“O Povo” contou entre os dias 8 e 10 de fevereiro deste ano, na série de reportagens O novo trem do Nordeste, os detalhes do projeto da Nova Transnordestina. À época, o presidente Lula estava às vésperas de realizar a mesma solenidade que só aconteceu ontem. Na série, uma equipe do “O Povo” percorreu vários pontos do trecho de 105 quilômetros que ligará por linha férrea as cidades de Missão Velha e Salgueiro (PE). A risca imaginária traçada pelos projetistas, com pinos de marcação para o serviço de terraplanagem e posicionamento dos trilhos, está feita desde meados do ano passado. No meio do caminho, casas, sítios, plantações, criações de gado e até uma escola que sairão para dar lugar à ferrovia.
Ontem no discurso, o próprio presidente lembrou que a Transnordestina já existe há muito tempo, mas também não funciona há muito tempo. Remonta aos tempos do Brasil Império – há mapas descritos dessa época para o projeto. Em 1991, época do governo Collor, foi aberto canteiro de obras em Pernambuco. O prefeito de Missão Velha, Gidalberto Rodrigues, lamentou ontem que o novo canteiro desta vez não venha para o Ceará. Aqui poderiam ser gerados vários empregos. Para não desagradar o prefeito nem a multidão, Lula alegou em sua fala que o presidente da CSN (empresa que administra o consórcio dono da Companhia Ferroviária do Nordeste – CFN), Benjamin Steinbruch, saberia dar essa resposta.
Orçada em R$ 4,5 bilhões, a nova Transnordestina totalizará 1.860 quilômetros de trilhos (sendo 905 de trilhos novos) ligando os portos de Pecém, no Ceará, ao de Suape, em Pernambuco e, numa terceira ponta, à cidade de Eliseu Martins, no Piauí. Este ponto é considerado o de maior viabilidade técnica para se aproximar ao pólo graneleiro do centro-oeste do País.
O governo federal banca R$ 3,55 bilhões via fundos de investimentos da região Nordeste; R$ 400 milhões são do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social); e R$ 550 milhões são da CFN. A obra tem previsão de durar quatro anos. Benjamin, quero que você faça em três anos, disse Lula. O empresário riu. Há promessa de que o projeto também receba trem de passageiros.
O primeiro a chegar
O paraibano Afonso José de Caldas, 71, foi o primeiro a chegar em frente ao palanque. Sentou na primeira fila de algumas cadeiras de plástico disponibilizadas pelo cerimonial presidencial – poucas para a multidão que aparecia mais tarde. O sol de Missão Velha ainda estava encabulado entre as nuvens escuras, antes das oito da manhã, e seu Afonso havia chegado desde cedo.
Viajou sozinho de ônibus da cidade de Barro. Poeta, ex-agricultor e ex-auxiliar de serviços médicos, também disse que era profeta da chuva – vai chover aqui nas próximas 48 horas. Hoje aposentado, Seu Afonso esperou mais de quatro horas para ouvir o discurso de Lula. Aí já era uma multidão ao seu lado. Não cansou. Não arredou pé, como se diz no Cariri.
Isso aqui é questão de fraternidade. Votei nele as quatro vezes e vou votar a quinta. E ele já está eleito. E como vê a série de denúncias que o governo Lula enfrenta desde o ano passado? Esse caixa 2 e esse tal de mensalão existem desde o começo da aliança com o partido dos bacurau em 1901. Hoje é a UDN, cita o aposentado, referindo-se à União Democrática Nacional, partido existente no Brasil dos anos 50 e 60. Seu Afonso é perguntado se não seria na verdade um dos partidos atualmente opositores a Lula. É tudo igual.
E a poesia pra Lula? Se quiser eu faço, agora, de repente. Estou aqui em Missão Velha/ veja-me, preste atenção/ Que eu não estou muito adequado/ mas eu digo com as minhas mãos/ O Lula vai ser o maior presidente/ que deu em nossa nação. Seu Afonso, como quase todos, só saiu da frente do palanque perto de uma da tarde, quando a solenidade da Nova Transnordestina foi encerrada. Pode ser que a chuva que previu não apareça em dois dias, mas como disse seu Afonso, pelo que se via ontem, é difíc
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