Empurrado pela força-motriz da política goiana, parece que desta vez, finalmente, a Ferrovia Norte-Sul entra nos trilhos. Ou, em um sentido menos metafórico, a atual campanha presidencial e os discursos dos principais candidatos ao governo de Goiás se afinam em relação à necessidade de tirar os trilhos desta ferrovia do papel e implantá-los de verdade. Em 2001, com a licitação de um trecho orçado em 25 milhões de reais, em Goiás, partindo de Anápolis, parecia mesmo que finalmente a obra ia andar.
Terminaram infrutíferas as emendas ao Orçamento, após a revisão do projeto, tirando seu início de Senador Canedo e transferindo-o para Anápolis. A questão ambiental foi resolvida, mas a administrativa não. Terminou um governo, Lula da Silva assumiu e a máxima boa-vontade que teve com o projeto foi mandá-lo para a fila das Parcerias Público-Privadas.
A esperança em torno da concretização de um projeto sonhado e iniciado há 20 anos ressurgiu com uma visita de Lula a Goiás, em maio. O presidente declarou-se arrependido de, no passado, ter criticado o projeto, pediu desculpas para seu aliado senador José Sarney. Foi o então presidente que, contra resistências diversas, conseguiu implantar os 220 quilômetros da ferrovia que já funcionam em seu Estado, o Maranhão. No mea-culpa, Lula disse que agora entende a importância da ferrovia e vai lutar pela sua construção. E ainda que nesses últimos anos os trilhos não tenham avançado nenhum centímetro em Goiás, os principais candidatos ao governo se animaram a colocar a Ferrovia Norte-Sul em seus programas de governo.
Do lado dos candidatos que apóiam Lula, Barbosa Neto, do PPS, parece ser o maior entusiasta do tema. Enquadrou a Norte-Sul como a principal das obras no que ele chama de “projeto macro-estruturante” para o desenvolvimento econômico de Goiás. O pacote no setor de transportes inclui duplicação e melhoria de rodovias federais que cortam Goiás e até um novo corte na Hidrovia de São Simão. Mas o mais impactante é mesmo a ferrovia que sai de Anápolis e chega ao Porto de Itaqui, no Maranhão, num percurso de 1,5 mil quilômetros.
Candidato do PMDB, Maguito Vilela não demonstra tanto entusiasmo quanto Barbosa. Talvez até porque não saiu a aliança formal de seu partido com o candidato à reeleição presidencial e, embora Maguito fale que o apóia, seu partido titubeia na posição. De toda forma, o tema da Norte-Sul faz parte de seu proselitismo e é crível que ele estará entre os que, na medida do possível, vão cobrar de Lula o apoio efusivo que ele manifestou espontaneamente em sua visita a Goiás sobre a ferrovia.
Entre os principais candidatos, a paixão sobre o assunto fica mais intensa no lado da coligação da base governista. Em mais de uma ocasião — tendo seu vice ao lado — o então governador Marconi Perillo fez festa para anunciar a arrancada da Norte-Sul. Em seu primeiro governo, foi um deputado então do PMDB, Euler Morais, quem colocou areia no negócio: ao questionar formalmente a licença ambiental, levou a que as verbas da União para a obra fossem bloqueadas. A solução só veio com a mudança do início da ferrovia de Senador Canedo para Anápolis. A burocracia mais uma certa má-vontade do governo federal fizeram o resto.
Marconi e Alcides Rodrigues, seu candidato ao governo, hoje trabalham com a possibilidade de dois cenários, em relação a recursos federais em Goiás e, em específico, no que diz respeito à Ferrovia Norte-Sul. Num deles, ruim, Marconi se elege senador e Alcides governador, mas Lula também vence as eleições. Neste caso, somente se a bancada goiana conseguir se unir em torno do projeto, e atrair outras forças parlamentares, o governo federal se sensibilizaria por ele. Seria por pressão, não por vontade.
O cenário positivo refere-se à eleição de Geraldo Alckmin. O tucano tem seu colega de Goiás candidato ao Senado na mais alta conta. Nos bastidores, o que se diz é que, se Alckmin conseguir vencer Lula, Marconi será seu
Seja o primeiro a comentar