Com objetivo de padronizar os trilhos vendidos ao Brasil, membros de empresas ferroviárias, instituições de ensino e de pesquisa vão realizar um estudo que oriente as empresas compradoras e fabricantes de trilhos sobre os aspectos que garantem a qualidade do produto. Unidas, as entidades criaram o Comitê Internacional de Estudos Técnicos Metroferroviários, que vai estabelecer critérios para a normalização do produto. A motivação do Comitê é adequar as normas internacionais às características brasileiras, como o relevo do país e sua condição de operação do sistema ferroviário. De acordo com a coordenadora, Célia Rodrigues, da MRS Logística, estes fatores são importantes para a durabilidade do produto e a segurança no transporte.
O estudo vai começar pelo desempenho, segurança, vida útil, soldagem, acompanhamento do desgaste, rastreabilidade, armazenamento, manutenção, entre outros requisitos necessários para que o produto seja de boa qualidade e atenda ao sistema metroferroviário brasileiro.
A pesquisa é realizada em conjunto com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (Abnt) e vai determinar o que poderá ser chamado de trilho no Brasil. Atualmente, a normalização da Abnt a respeito do sistema metroferroviário está desatualizada, explica Rodrigues. O órgão não terá poder para impedir que os trilhos que não obedeçam à norma entrem no país, mas oferecerá informações sobre os requisitos que uma empresa deve avaliar na hora de encomendar ou fabricar um trilho para o Brasil.
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Apesar de existirem poucos fabricantes de trilhos no mundo e nenhum no Brasil, a coordenadora acredita que as empresas terão interesse em de adequar às orientações brasileiras, pois acredita que o país é um mercado atrativo e em expansão. O que ela diz pode ser comprovado pelo interesse de empresas estrangeiras em participar do comitê. As européias Arcelor e Corus já integram o Comitê, enquanto outras duas, uma do Japão e outra também da Europa, manifestam intenção de fazer parte do estudo. O comitê é chamado de internacional porque as empresas estrangeiras participam com palestras para a troca de conhecimento entre os membros.
Rodrigues explica que um trilho de qualidade dura pelo menos quatro vezes mais que um de qualidade inferior. Ela enfatiza que os terrenos montanhosos e o traçado com muitas curvas no Brasil são aspectos a serem levados em consideração para a confecção dos trilhos, pois influenciam diretamente em sua durabilidade.
O Comitê decidiu dar prioridade aos trilhos, pois este é o produto mais caro às operadoras do transporte ferroviário. De acordo com Paschoal De Mario, Assessor do Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários (Simefre), que também integra o Comitê, o grupo pretende continuar a realizar pesquisas com outros produtos ferroviários.
Rodrigues ainda não sabe como o estudo será financiado, mas informa que o assunto será discutido no próximo encontro, em outubro. Outro tema previsto é a análise das normas internacionais.
A primeira reunião do grupo aconteceu em maio, com uma palestra da espanhola Arcelor – empresa que tem cerca de 40% de participação do mercado de trilhos no Brasil. A segunda foi realizada em julho. Na ocasião, o Comitê instituiu duas comissões de trabalho: uma para análise das principais normas internacionais, especificações técnicas sobre trilhos e classificação de ferrovias, com o objetivo de dar elementos para discussão na próxima reunião. A outra comissão cuidará da infra-estrutura das palestras a serem realizadas.
O comitê é composto por representantes da Associação Nacional dos Transportadores Ferroviários – ANTF; ANTT; Sindicato Interestadual da Indústria de Materiais e Equipamentos Ferroviários e Rodoviários – Simefre, Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, demais universidades e centros de pesquisa, operadoras de carga e de passageiros e fabricantes de trilhos.
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