Com as obras iniciadas há cerca de 10 anos – o que inclui as fases de projeto, planejamento e execução – depois de paralisações por falta de verba, gasto de mais de US$ 110 milhões, disputas políticas sobre o financiamento, greve dos trabalhadores e manifestações de movimentos sociais, o metrô de Salvador continua com uma série de indefinições. A principal delas diz respeito ao impacto da implantação no transporte público.
Com estações de ônibus saturadas e um sistema de transporte público reprovado pela maior parte da população – alto custo das passagens, linhas e frota insuficientes são as principais queixas – os moradores de Salvador aguardam ansiosos a solução que, ao que tudo indica, não virá com o metrô. As principais estações de ônibus da capital: Lapa e Pirajá atendem, respectivamente, mais de 400 e 100 mil passageiros por dia, o que beira o limite.
Enquanto o metrô não sai, os futuros usuários continuam sabendo muito pouco sobre a obra. Faltam campanhas de esclarecimento e a página na internet (www.metro.salvador.ba.gov.br), destinada a informar o cidadão, está desatualizada desde 2003.
O professor de Transporte Urbano da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Elmo Felzemburg é taxativo: “Doze quilômetros de metrô é muito pouco para a área da cidade e o percentual da população afetado”. Segundo ele, para que o sistema de transporte urbano possa sentir o impacto da obra e tenha aliviado seus principais problemas, é preciso que o metrô esteja em funcionamento com pelo menos 100 quilômetros de extensão.
Quando fala em 12 quilômetros, o professor se refere à extensão do trecho previsto para a primeira linha no projeto inicial, que ligaria a Lapa ao bairro de Pirajá e deveria ter ficado pronto em dezembro de 2003. Este trajeto, entretanto, foi encurtado e só deve chegar até o acesso Norte. O novo trecho que está em construção é de apenas 6 quilômetros e tem previsão de término em dezembro de 2007. Terá cinco estações: Lapa, Campo da Pólvora, Brotas, Bonocô e acesso Norte.
Reiniciadas em fevereiro deste ano, as obras do metrô só tomaram fôlego, de fato, no mês de julho. Segundo Paulo Macedo, diretor da Companhia de Transporte de Salvador (CTS), responsável pela execução das obras, houve uma série dificuldades por causa de ajustes do projeto. “As obras pararam por causa de entraves relativos ao financiamento”, justifica. Ele acrescenta que somente este mês os trabalhadores voltaram aos postos em massa, especialmente na região do Bonocô, área de maior atividade.
O diretor admite que as obras recomeçaram em ritmo lento e lembra que foi preciso um tempo para a mobilização de pessoal, por causa das pausas anteriores. No mês de junho, o governo do Estado assinou contrato para a compra de seis trens, com custo de US$ 42 milhões. As obras continuam com recursos do Bird.
Linha subaproveitada – Para o urbanista Armando Branco, além de ser insuficiente para a demanda, o metrô não está sendo construído no local mais necessitado da cidade. “A linha prioritária do metrô seria a Iguatemi-Lapa”, acredita. O especialista afirma que a obra do metrô é de extrema necessidade, mas deveria começar pelo local onde o “nó” é maior e seria melhor aproveitado ao longo do dia. “Na linha acesso Norte haverá uma baixa renovação de passageiros. Eles vão pela manhã para o centro e só voltam no final da tarde”.
Segundo Branco, o que deve acontecer é uma ociosidade dos trens do metrô entre os horários de pico. “Se for feita a extensão até o Iguatemi, ai sim o projeto será reaproveitado”. Essa extensão, entretanto, não está prevista na fase em andamento, o que significa que apenas a partir do final de 2007 poderá ser discutida. O professor Armando Branco cobra ainda uma maior participação da sociedade na discussão do projeto do metrô. “A prefeitura não coloca o projeto para discussão, não se sabe em que ponto está o
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