Paranapiacaba está prestes a ganhar seu primeiro Plano Diretor. O estudo inédito elaborado pela Prefeitura de Santo André traça o futuro da vila ferroviária para os próximos dez anos. O projeto lista propostas que vão da melhoria da infra-estrutura do complexo erguido pelos ingleses na segunda metade do século XIX à retomada da arquitetura original das casas, alterada com passar dos anos. As mudanças envolvem toda Vila. A expansão da mancha urbana da área do Rabique deve ser congelada e a prioridade passa a ser a recuperação da mata nativa do entorno do bairro. Para a parte alta, porta de entrada de Paranapiacaba, está programada a regularização fundiária.
O projeto do Plano Diretor foi concluído pela Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Habitação e seguiu na sexta-feira à tarde para Câmara. Depende, agora, de aprovação dos vereadores para entrar em vigor. O Plano prevê ações específicas para cada uma das áreas de Paranapiacaba, mas não especifica como será concretizado na prática. Também não traz custos necessários para as obras ou o cronograma para realização. O plano Diretor é uma espécie de guia do que se pode e do que não se pode fazer em Paranapiacaba, justifica Claudia Regina Cabral de Souza, diretora da Coordenadoria do Plano Diretor.
Críticas – Os maiores interessados em que o Plano Diretor vingue, os moradores da Vila, aplaudem a iniciativa da Prefeitura. Porém, o arquiteto e urbanista Issao Minami, uma das maiores autoridades sobre o patrimônio cultural da Vila, é voraz crítico do conteúdo do projeto municipal. Segundo ele, algumas diretrizes listadas desviam a Vila da ferrovia, que deveria ser a principal vocação turística.
Professor da USP (Universidade de São Paulo), Issao Minami estuda Paranapiacaba desde a década de 1970 e utilizou a Vila como foco central para o desenvolvimento de suas teses de mestrado e doutorado. O urbanista acredita que o desenvolvimento sustentável de Paranapiacaba depende da reativação da ferrovia, que não se resume ao retorno dos trens da linha D da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) à Vila. Mas prevê também a recuperação dos trens que desciam a Serra do Mar, com saída de Paranapiacaba.
Issao Minami diz que no Sul do Brasil, em Paranaguá, há uma estrutura ferroviária semelhante à de Paranapiacaba, que tem sido explorada, do ponto de vista turístico. E eles não têm a mesma beleza paisagística que nós temos. A reativação das duas linhas são freqüentemente cogitadas, tanto pela Prefeitura de Santo André como pelo Estado, mas nunca se concretizam.
Entre outros equívocos do Plano Diretor, segundo o ponto de vista de Issao Minami, é criação de um espaço diferenciado no novo zoneamento da Vila, que prevê a instalação de empreendimentos voltados ao condicionamento ou relaxamento físico e mental ou ao retiro espiritual. O rótulo abrange centros de spa e clínicas de massagem, psicologia, psiquiatria e tratamentos alternativos. Isso mexe com a história de Paranapiacaba. Cria uma artificialidade que não faz o menor sentido. Isso ocorreu com Embu das Artes (Região Metropolitana), com o artesanato, e Paranapiacaba está caminhando para essa mesma direção. O ideal, até mesmo pela estrutura da Vila, é um turismo voltado para contemplação, sentenciou.
O que muda com o Plano Diretor
Rabique
A área fica na parte alta de Paranapiacaba, entre a Rodovia Adib Chamas, a SP-122, e a linha férrea. O setor cresceu de forma espontânea e sem planejamento às margens do rio Rabique, que em tupi significa sinuoso. A área é de difícil acesso. Fica num fundo de vale e é cercado por encostas sujeitas a deslizamentos. O plano prevê o congelamento da ocupação e a recuperação ambiental da área. Os acessos ao setor, restritos à SP-122, serão melhorados, assim como a infra-estrutura básica das casas. O fornecimento de energia elétrica e água são precários e o esgoto produzido é lançado in natura no rio Rabique.
Parte Alta
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