A Seara, controlada pela norte-americana Cargill, vai usar, pela primeira vez, a ferrovia para escoar a sua produção. A empresa fechou um contrato inédito com a América Latina Logística (ALL) para transportar por trem a produção de frangos e suínos congelados das suas fábricas localizadas em São Paulo, Mato Grosso do Sul e Paraná até o porto de Paranaguá (PR).
As empresas não revelam o valor do contrato, mas serão transportados, inicialmente, 200 contêineres por mês (5 mil toneladas). A carga seguirá por caminhões das unidades industriais até o terminal da ALL em Cambé (PR), onde os contêineres serão transbordados para vagões e seguirão para o terminal de contêineres (TCP) em Paranaguá. A Seara embarca sua produção para países da Europa, Ásia e Oriente Médio. Até agora, no entanto, toda a produção chegava aos portos de Itajaí (SC) e Paranaguá (PR) por caminhões. Lio Macedo, diretor de logística da Seara, afirma que o frete representa entre 10% e 15% dos custos de exportação, mas não revela o percentual de ganho com a opção pela ferrovia.
Segundo Alexandre Campos, diretor de industrializados da ALL, de maneira geral a ferrovia representa redução de custos da ordem de 15% em relação à rodovia. Quanto mais próxima a empresa da malha, maior a vantagem do trem diante do caminhão, afirma. A Seara, que tem sede em Itajaí (SC), vai escoar por trem a produção das fábricas de Nuporanga (SP), Jacarezinho (PR), Sidrolândia (MS), que atuam no abate de aves, e de Dourados (MS), no de suínos. As demais unidades de abate da empresa, localizadas em Itapiranga, Seara, Jaraguá do Sul e Forquilhinha (SC) vão continuar a usar caminhões. A produção dessas unidades é exportada pelo porto de Itajaí (SC). Lá estamos próximos do porto e a operação rodoviária é mais viável, diz.
Outras empresas do setor, como Sadia, Avipal e Doux-Frangosul, também já adotam a ferrovia para escoar sua produção. Com o dólar baixo e o mercado mundial retraído por conta dos casos de gripe aviária, a redução de custos tem sido um foco importante especialmente para esse setor, acrescenta Campos. Segundo o diretor de industrializados, a ALL triplicou a movimentação de cargas frigorificadas em 2006 na comparação com o ano passado.
Única ferrovia a operar com esse segmento, a empresa movimenta hoje 20 mil toneladas por mês. Existe muito potencial para crescimento. Hoje esse segmento representa menos de 5% dos nossos negócios na área industrial, diz. Dos quatro novos terminais que a ALL colocou em operação recentemente, com investimentos de R$ 20 milhões, dois deles – localizados em Cambé (PR) e em Esteio (RS) – podem operar com cargas frigorificadas. Esse setor é estratégico, diz Campos, que adianta que a ALL estuda a instalação, em Lages (SC) de mais um terminal que possa trabalhar também com esse tipo de carga. Com foco nesse mercado, Campos diz que a ALL tem adotado inovações, como a eliminação do chamado vagão gerador, que faz o reforço de frio nas cargas, que precisam ser mantidas a uma temperatura média de -18 graus C. A empresa instalou cabos nos contêineres que podem ser conectados em tomadas e geradores instalados ao longo da malha, eliminando a necessidade do gerador junto às composições.
Com a queda no consumo do diesel usado no vagão gerador, a empresa reduziu custos em até 5%, segundo ele. Economia de tempo No caso da Seara, a carga receberá o reforço de frio no terminal em Cambé (PR) e em outro terminal em Curitiba antes de seguir rumo ao porto de Paranaguá. Em média, cada recarga, leva de seis a 12 horas. Apesar disso, Campos garante que há uma economia de tempo em relação ao registrado com a utilização do vagão gerador. Com o vagão gerador, tínhamos muitos problemas de roubos de cabos, o que acabava atrasando a viagem por até 24 horas. Agora, além de ter menor custo, a operação está muito mais segura, lembra.
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