Em agosto de 2005, durante uma apresentação sobre infra-estrutura na Confederação Nacional da Indústria, o presidente Lula trocava bilhetinhos animados com o vice, José Alencar. Curioso, Paulo Safady, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção, quis logo saber do que se tratava. Para o espanto dele, discutiam nomes de remédios. Há duas semanas, desta vez no Palácio do Planalto, durante outra apresentação do setor, Safady não tirou os olhos de Lula. E gostou do que viu. O presidente se desdobrava em sua cadeira, atento a cada linha da apresentação que os empreiteiros levaram a ele. Esta diferença de comportamento ilustra a prioridade que Lula vem bradando para o segundo mandato. Não é por menos, um ranking sobre competitividade feito pelo Fórum Econômico Mundial classificou o investimento em infra-estrutura brasileiro em 3,29, numa escala de 0 a 10, resultado do grande déficit orçamentário em relação às demais 174 economias analisadas. Pesam, ainda, o endividamento do governo e o spread dos juros, que afetam os investimentos do setor privado e o crescimento econômico do País. “Nos últimos oito anos, setores como energia e transportes receberam menos recursos por razões que vão desde o problema fiscal até questões ideológicas”, analisou à “Dinheiro” Colin Lewis, especialista em América Latina da London School of Economics. “O Brasil precisa definir marcos regulatórios mais claros do que os que existem atualmente.”
O Brasil perde R$ 46 bilhões por ano com esses buracos. O prejuízo é 3,5 vezes maior que os investimentos da União no setor até novembro deste ano – R$ 13,5 bilhões. No agronegócio, as perdas anuais são de R$ 2,7 bilhões em grãos, totalizando 28 milhões de toneladas deixadas nos buracos das estradas nos últimos oito anos. Para as transportadoras e exportadores, o prejuízo chega a R$ 17 bilhões por ano. “O que os passageiros estão sofrendo com a crise nos aeroportos, as cargas já sofrem há muito tempo”, ataca Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira de Infra-Estrutura e Indústria de Base. “A diferença é que contêiner não reclama.”
Rodovias – Pelas estradas brasileiras transitam 59,2% da produção nacional e 96% das pessoas que viajam. No entanto, 75% das estradas encontram-se em estado péssimo, ruim ou regular. Do 1,7 milhão de quilômetros de estradas, apenas 196 mil são pavimentadas. A operação tapa-buracos, que custou R$ 447 milhões, não serviu para recuperar sequer metade das rodovias federais. E, pior, as crateras já voltaram e o cenário está distante de ser modificado. Os investimentos públicos foram de R$ 11,7 bilhões nos últimos quatro anos, uma média anual de R$ 2,9 bilhões, quatro vezes menor do que o necessário para recuperar a malha em cinco anos. “O Ministério dos Transportes precisa cuidar da logística, não só de obras”, afirma José de Freitas Mascarenhas, presidente do Conselho de Infra-Estrutura da CNI. “Com os investimentos necessários, os custos logísticos cairiam de 20% do PIB para 14%.”
POD NOS TRILHOS
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Energia – Nos próximos dez anos, o Brasil precisa investir US$ 40 bilhões para aumentar a capacidade de geração dos atuais 100 mil MW para 140 mil MW e expandir em 64 mil quilômetros as linhas de transmissão. A oferta tende a crescer em torno dos 7%, até 2010, mas há dúvidas sobre o que ocorrerá depois disso. Especialmente pelas dificuldades na construção de hidrelétricas, responsáveis por 96,8% da energia produzida no País. As obras de 21 usinas, por exemplo, estão paradas, por problemas jurídicos ou ambientais. Entre elas estão duas usinas hidrelétricas do rio Madeira e a de Belo Monte, que, juntas, teriam o tamanho de três Itaipus. “Não é de se estranhar termos poucas ofertas para a próxima década”, critica Cláudio Salles, presidente do Instituto Acende Brasil. “Um planejador prudente não alocaria recursos num cenário como esse.” Outro complicador é o gás natural. Depois do forte estímulo ao seu uso, a Petrobras voltou atrás em sua sugestão. Por motivos práticos. No
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