Para o maquinista da SuperVia X., assim como os acidentes que ocorreram com o avião da TAM, acidente com os dois trens da Supervia nas proximidades da estação de Austin, em Nova Iguaçu, é uma tragédia anunciada.
– A situação é de calamidade, a SuperVia está forçando uma barra com trens que não podem circular e sem material para suprir as necessidades. A empresa está, na verdade, quebrando um galho, maquiando problemas. Isso aconteceria, mais cedo ou mais tarde – contou X., que aceitou falar com exclusividade ao Globo Online sob condição de anonimato. – Muitos trens circulam sem velocímetro, portas e rádio. Às vezes o maquinista tem que usar o próprio celular para falar com a Central – acrescentou o funcionário, que tem experiência em todos os ramais.
Com tantos problemas, continua X., a causa do acidente, que matou oito pessoas e deixou outras 101 feridas, será difícil de ser estabelecida com precisão:
– Nesse cenário de calamidade, pode ser tanta coisa. Não dá para precisar se foi problema no freio, avanço de sinal, sinalização problemática ou falha na comunicação com a Central. Mas temo que eles (a SuperVia), no fim das contas, acabem mesmo culpando um dos maquinistas, como sempre acontece. Ainda mais se for problema de sinalização. Isso eles nunca admitem.
Apesar de o acidente ter acontecido no ramal Japeri, X. acredita que foi uma sorte a tragédia não ter acontecido antes em um outro trajeto, definido por ele como o ramal da morte.
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– O ramal de Japeri não é dos mais problemáticos. O inferno mesmo é o ramal de Belford Roxo, principalmente no trecho entre Gramacho e Saracuruna. Esse ramal é uma tragédia, a manutenção é péssima, com problemas gravíssimos de freio. A SuperVia pega umas peças com problema, dá uma disfarçada e põe a peça de volta na composição. Além disso, a SuperVia coloca os trens mais velhos e mais sucateados para os trechos que vão às áreas mais pobres. É muito triste. Passei a rezar mais ao sair de casa para trabalhar de uns tempos para cá – revelou.
X. diz também que, além de a empresa que administra a rede ferroviária não fazer os investimentos necessários, ela ainda sofre graves problemas em comunidades carentes.
– A SuperVia está há quase nove anos administrando a linha férrea, mas praticamente só investe em estação e quase nada na tração e na manutenção das vias permanentes. Antes da SuperVia havia mais investimento. Mas não posso negar que algumas vezes o trabalho de manutenção é bastante difícil em trechos que atravessam favelas. Os traficantes simplesmente não deixam os funcionários da Supervia trabalhar – declarou.
A equipe do Globo Online entrou em contato com a SuperVia, que não quis se pronunciar sobre as declarações do maquinista. Eles disseram ainda, por meio da assessoria de imprensa, que só vai se manifestar sobre as questões após o laudo da comissão que está apurando as causas do acidente, que deve sair em dez dias.
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