A Vale do Rio Doce saiu vencedora na dura queda-de-braço travada com Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) sobre um enorme contrato de venda de minério de ferro da mina Casa de Pedra para a trading japonesa Mitsubishi. Mas Benjamin Steinbruch, principal acionista e presidente da CSN, procura tirar proveito da situação. “Acatamos a decisão da Justiça e vamos entregar o minério no porto”, afirmou, enfatizando que o importante é que agora a CSN começa a emitir anualmente uma fatura gorda contra a Vale. Para 2008, no mínimo uns US$ 500 milhões com a entrega de 8 milhões de toneladas de minério. Procurada, a Vale não quis se manifestar.
Steinbruch disse ao Valor, durante sua participação no evento de siderurgia que ocorreu até ontem na cidade colombiana, que a Vale torna-se uma grande cliente da CSN. O contrato de 53 milhões de toneladas firmado há três anos com a Mitsubishi durará até por volta de 2015. A entrega do produto estava parada porque a CSN alegava que a Vale deveria retirar o minério na mina, em Congonhas (MG). A Vale insistia que o acordo previa a entrega no porto, em Sepetiba, no Rio.
Após longo tempo, um juiz da Corte Internacional de Arbitragem deu parecer favorável à Vale. “O único inconveniente é que teremos menor capacidade no nosso porto para movimentar outras cargas por pouco tempo”, disse o empresário. Em 2009, o volume de entrega a Vale deve saltar para 11 milhões de toneladas, mas depois irá se estabiliza no patamar de 5,5 milhões de toneladas por ano.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
- SP nos Trilhos: os projetos ferroviários na carteira do estado
O contrato é resultado do direito de preferência de compra que a Vale tem contra a CSN para todo o minério que exceder o consumo cativo da suína da siderúrgica, que chega a 8,5 milhões de toneladas por ano. Nas vendas a mercado interno a mineradora abriu mão desse direito, mas nos contratos internacionais faz questão de exercer a prerrogativa.
Esse direito de preferência sobre excedente de Casa de Pedra é alvo de discussão na Justiça há mais de dois anos. Em 2005, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) julgou que a Vale fizesse uma opção entre ficar com esse direito e vender outra mineradora, a Ferteco, que adquiriu em 2001. A Vale foi à Justiça e briga até hoje para manter o direito e a Ferteco.
Além de ter uma grande cliente garantida para suas vendas de minério de ferro, um novo negócio da CSN, Steinbruch poderá ficar ainda mais feliz se a Vale emplacar um gordo aumento nos reajustes dos preços do minério de ferro para 2008. As negociações começam em duas a três semanas, mas analistas prevêem altas de 30% a 50%, que vão entrar em vigor em abril. Aos jornalistas presentes no evento, Steinbruch afirmou que espera um aumento de 50%. Sua justificativa é que a demanda mundial continua forte.
De acordo com Otávio Lazcano, diretor financeiro da CSN, a receita com minério de ferro deverá alcançar pelo menos US$ 1,5 bilhão (o valor inclui o volume vendido à própria CSN para fazer seu aço). Ele observou que esse valor é praticamente o mesmo do investimento em curso na mina para quadruplicar a atual capacidade, de 16 milhões de toneladas por ano. A empresa tem projeções de produzir e vender mais de 60 milhões de toneladas anuais a partir de 2010, quando seus projetos de expansão da mina e porto estiverem concluídos.
“O preço da ação da CSN hoje, na casa de R$ 140,00, ainda não reflete o real valor de todos os negócios e ativos que estão dentro da empresa”, disse o diretor. “Os analistas e investidores não atribuem valor para muitos desses ativos e só reconhecem no máximo 20% a 30% do valor de Casa de Pedra no preço da CSN”, reclama o diretor, que acrescenta: “Estamos com toda produção vendida de minério de ferro para 2008 e 2009, na faixa de 30 milhões de toneladas”. Por conta da questão com a Vale, a CSN carrega estoque na mina de 11 milhões de toneladas.
Para Steinbruch, o valor de mercado da CSN, de US$ 22 bilhões na última sexta-feira, ainda não inclui por parte do mercado toda a percepção
Seja o primeiro a comentar