Presidente da Vale rejeita as críticas de que a mineradora só explora riquezas naturais e investe pouco no país.
Bombardeado pelo presidente Lula por não investir o suficiente no país, o presidente da Vale, Roger Agnelli, exibe os números de US$11 bilhões a serem aplicados só no ano que vem. Ele lembra que tem investido pesado em ferrovias e na geração de energia elétrica e conta que quer disputar o leilão para construir as hidrelétricas do Rio Madeira. Agnelli garante que entende as cobranças de Lula, mas rejeita o rótulo de que a mineradora esfola o Pará, onde só no terceiro trimestre investiu US$935 milhões. “Quem faz buraco é garimpeiro”, diz Agnelli, frisando que a indústria da mineração é das que mais gera desenvolvimento e riqueza no mundo.
Cristina Alves, Ancelmo Gois
e Rodolfo Fernandes
O presidente Lula diz que a Vale esfola o Pará e dá pouco em troca. Como têm sido suas conversas com ele?
ROGER AGNELLI: São muito positivas. Onde a gente puder ajudar, vamos ajudar. Essa declaração, eu li, mas o presidente jamais me falou. Ele entende que a Vale é uma parceira do país. As pessoas podem até pensar que mineração é abrir buraco, mas é uma indústria sofisticada de processar e entregar o minério. Quem faz buraco é garimpeiro. A mineração gera desenvolvimento, riqueza. Além disso, estamos investindo em segurança, em educação. Na área de energia, no governo do presidente Lula, inauguramos sete usinas hidrelétricas. Estamos na oitava e queremos a nona, que é o Rio Madeira. Queremos estar no leilão do Madeira. No caso de ferrovias, estamos fazendo a Norte-Sul, a Litorânea Sul. Duplicamos a capacidade da Vitória-Minas, duplicamos a ferrovia de Carajás. Arredondamos a ferrovia Centro Atlântica (FCA), que custou quase US$1 bilhão para poder recuperar. O maior investidor em portos no Brasil tem sido a Vale.
As críticas do presidente então têm sido injustas?
AGNELLI: Acho que não, é bom ser pressionado, entendo que cada um tem que seguir a sua estratégia. A Vale é a empresa privada que mais investe.
Qual o principal gargalo na Vale hoje?
AGNELLI: Hoje é gente. Outros grandes gargalos são equipamentos e energia. Mas não para os projetos que estamos tocando, mas para os futuros. Até 2012, está garantido.
Quais os planos para o investimento no Rio Madeira?
AGNELLI: O que a gente está querendo é gerar energia para nosso próprio consumo. A maioria dos grupos tem distribuidora de energia. Estamos conversando para ver se há forma de compatibilizar interesses.
Isso quer dizer: entro com 15% do negócio e você me dá 15% da energia?
AGNELLI: É isso mesmo que a gente quer. Estamos conversando com todos os grupos.
Qual é a meta?
AGNELLI: A idéia é ficar com 50% de geração própria. Hoje não está nem em 20%. O consumo é de 2 mil megawatts/ano. Para crescer mais, temos que construir usinas.
A Vale está preocupada com a possibilidade de a Rio Tinto, sua concorrente, parar na mão dos chineses?
AGNELLI: A mineração é uma indústria extremamente importante para o crescimento do mundo inteiro. Se não houver empresas grandes, com capacidade de investimento não se consegue aumentar produção de forma rápida para atender a demanda, e isso pode se transformar em inflação. Quanto mais capacidade financeira se tiver, melhor. Se for uma empresa chinesa que está dentro do conceito de economia de mercado, tudo bem… Agora, se for para atender a interesses do governo chinês, atuando em outros países, aí não é tão fácil de aceitar porque é um conflito político grande…
Quer dizer que, se a Vale fosse estatal, ela não compraria a canadense Inco?
AGNELLI: Não compraria. Os canadenses não deixariam. Foi um dos grandes questionamentos do governo canadense. Eles queriam saber se o governo brasileiro tinha influência na gestão e na definição estratégica.
O PT condenou formalmente
Seja o primeiro a comentar