Para o escritor e fotógrafo Pedro Karp Vasquez, as palavras fotografia e ferrovia têm muito mais em comum do que uma rima fácil. Seu mais recente livro, “Nos trilhos do progresso. A ferrovia no Brasil Imperial vista pela fotografia”, da editora Metalivros — que será lançado quinta-feira, às19h, na Livraria Argumento Leblon —, mostra cerca de 200 imagens que documentaram a implantação do transporte ferroviário no país.
Os cliques históricos foram feitos pelos mais atuantes profissionais do século XIX — Augusto Stahl, Revert Henrique Klumb, Benjamin R. Mulock, Militão Augusto de Azevedo Juan Gutierrez e, sobretudo, Marc Ferrez. A maioria das fotos foi produzida por Ferrez. Muitas são inéditas e disponibilizadas pela primeira vez pelo Instituto Moreira Salles. As imagens mostram ferrovias de Norte a Sul, como a Estrada de Ferro Mauá, a primeira do Brasil, de 1854.
— Ele foi o grande fotógrafo de ferrovias no Brasil. Mostrou o interior de São Paulo e Minas, além de ter feito muitos registros no Rio. Quando Gilberto Ferrez morreu, um dos projetos dele era justamente fazer um livro sobre o avô em torno das ferrovias.
Fiquei feliz de seguir a inspiração — diz Pedro, que, com o lançamento da obra sobre fotografia e ferrovias, completa uma lista de 20 livros que contam a história das imagens.
Obra proporciona uma viagem de volta ao tempo
Além de imagens, páginas trazem relatos de viajantes
As imagens mostram a construção das linhas com a abertura de túneis, os cortes nas rochas, os acampamentos dos trabalhadores, as locomotivas.
Nas páginas do livro, além de imagens documentais, há relatos dos viajantes que detalham as paisagens em minúcias, como o casal Louis e Elizabeth Agassiz, que fez uma expedição científica no Brasil durante os anos de 1865 e 1866, do Rio ao Amazonas.
Sobre a viagem na Estrada de Ferro Dom pedro II, escreveram “…primeira vez que se contempla a natureza sob um aspecto inteiramente novo, experimenta-se uma sensação de encanto que só dificilmente se repetirá; a primeira vez que se contempla o oceano, que se vê a vegetação dos trópicos em toda a sua pujança, marca época na vida…” — A idéia do livro é apresentar a implantação da ferrovia pelo ponto de vista da fotografia.
As duas eram as novidades tecnológicas da época.
São grandes invenções e, ao mesmo tempo, tiveram o poder de expandir a visão de mundo do homem oitocentista.
A ferrovia permite viagens seguras e o nascimento do turismo.
A fotografia complementa isso porque permite uma viagem visual. Existe uma conexão profunda — explica Pedro.
Operários trabalhavam usando roupas sociais Através de suas páginas, o livro leva o leitor a fazer uma viagem de volta aos costumes oitocentistas. Os operários aparecem trabalhando de blusas de mangas compridas e calças sociais, alguns até de chapéu. Há também imagens de engenheiros e técnicos bigodudos, que viabilizaram projetos para ligar os distantes pontos do Brasil.
Numa das fotos de Marc Ferrez, um grupo posa ao lado dos trilhos da Estação de Ferro do Corcovado, a primeira ferrovia turística da América Latina, inaugurada por Dom pedro II, em 9 de outubro de 1884. Na imagem, mulheres aparecem de longos vestidos fechados, sem decotes, só com as mãos e os rostos de fora. Os homens estão de casaca e cartola, como se o calor carioca ainda não existisse.
O livro conta, por exemplo, a história da Estrada de Ferro Dom pedro II — hoje conhecida como Central do Brasil. Este ano, no dia 29 de março, serão completados 150 anos da sua inauguração pelo imperador Dom pedro II e a imperatriz Thereza Cristina.
— Naquela época, os subúrbios eram bucólicos e significavam uma possibilidade de acomodação melhor. As pessoas faziam passeios por essa ferrovia — acrescenta Pedro
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