São pouco mais de 120 metros de trilhos, o suficiente para que cerca de 30 aficionados se reúnam todos os fins de semana. O hobby deles é o ferromodelismo, uma prática muito difundida na Europa e, principalmente, nos Estados Unidos, mas ainda com poucos adeptos no Brasil.
Mesmo que ainda não sejam muitos os brasileiros (não há estatísticas de quantos), o entusiasmo é contagiante, pelo menos em Belo Horizonte, onde o grupo se encontra aos sábados e domingos, na Rua dos Tapuias, quase esquina com Sapucaí, no Bairro Floresta, na Região Leste de Belo Horizonte, antiga sede da extinta Rede Ferroviária Federal. É ali que funciona a sede da Associação Mineira de Ferreomodelismo. Neste ponto vale uma observação: os integrantes do clube insistem na palavra ferreomodelismo, apesar de o dicionário só registrar ferromodelismo.
Frank Sinatra, Rod Stewart e Paul Newman são algumas das celebridades internacionais que tiveram ou têm o passatempo como hobby, como explica o projetista Vitor Dorella, que há anos freqüenta o lugar. Dorella diz que o adepto é, antes de tudo, um amante de ferrovias, locomotivas e vagões de verdade. Ele acredita que os trens voltarão a fazer história no Brasil: “O caminho do desenvolvimento passa pelas ferrovias”, decreta.
Outro integrante da associação, Roberto Capurucho, diz que o Brasil chega a ter menos quilômetros de trilhos que a Argentina. Enquanto o país vizinho tem 36 mil quilômetros de trilhos, o Brasil tem 28 mil e os Estados Unidos têm 188 mil. “Talvez isso explique por que o ferromodelismo é tão difundido na América do Norte. Eles têm uma cultura ferroviária muito maior que a nossa”, conjectura Capurucho.
Todos os integrantes do grupo têm suas locomotivas e vagões (a chamada composição) e os carregam em maletas apropriadas para o transporte. A linha férrea, que funciona nos sistemas digital e analógico, está sempre recebendo reformas e manutenção, como se faz nas linhas verdadeiras. Além de trens e vagões, chama a atenção o esmero com que é construído o complexo. São pontes, túneis e paisagens formadas por morros, campos, igrejas, casas, estações, carros, caminhões e até uma mineradora. Tudo na escala conhecida internacionalmente como HO, que tem 1:87, ou seja, tudo, das locomotivas aos túneis, é exatamente 87 vezes menor que os originais.
As máquinas podem ser nacionais ou importadas, mas todas seguem fielmente os padrões de originalidade. Outro aficionado, o comerciante Bruno Godoy, diz que as boas locomotivas nacionais (que podem ser réplicas de modelos estrangeiros) custam entre R$ 600 e R$ 700. “Mas há máquinas importadas, como a suíça Fulgurex, que custa até 3,8 mil euros. Ela é construída com série limitada”, diz.
Um dos fundadores da associação, o comerciante Arides Silva explica que a prática não é de competição. “Aqui, as pessoas não competem. Não é como um autorama. Aliás, nunca chame isso de ferrorama, que é um brinquedo”, alerta. Ele diz que o espaço é aberto aos sábados, das 14h às 18h, e aos domingos, das 9h às 13h. A associação cobra R$ 20 mensalmente de cada sócio, que hoje são pouco menos de 200, sendo uns 30 mais atuantes. Qualquer pessoa que quiser pode visitar o lugar e admirar a beleza e a engenhosidade das máquinas.
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