Pela janela do trem, os 500 mil passageiros que usam o transporte diariamente vão testemunhar mudanças a partir do segundo semestre. Do Centro da cidade à Baixada Fluminense, um investimento de R$ 18,2 milhões vai transformar 14 estações da SuperVia. As reformas incluem a instalação de escadas rolantes, recuperação de túneis e rampas, obras nas bilheterias e novo sistema de sinalização.
Até o fim de 2009, Central do Brasil, Méier, São Cristóvão, Cascadura, Madureira, Bangu, Campo Grande, Santa Cruz, Caxias, Gramacho, Nilópolis, Nova Iguaçu, Queimados e Austin vão ganhar cara nova. O projeto está em fase de contratação e alguns tapumes devem começar a aparecer já em maio, na Central.
Todas as plataformas ganharão cobertura contra sol e chuva e as fachadas receberão novas cores, dando ar de modernidade à rede, que em 2008 completa 150 anos.
Acesso mais fácil
A modernização das estações começou com o sistema de bilhetagem. Em algumas, como Engenho de Dentro, o acesso às plataformas agora é separado das cabines de venda de passagens. Quem pega o trem diariamente pode colocar crédito no cartão para vários dias de viagem. No fim de junho, o novo sistema estará funcionando nas 89 estações da rede ferroviária.
A notícia é recebida com entusiasmo por quem usa trem. “Ainda há muito o que aperfeiçoar, mas as melhorias são claras e atraem quem antes tinha medo por causa do abandono. Viajei em trens caindo aos pedaços, com portas abertas. Hoje, é totalmente diferente”, afirma o estudante de Direito Dante Buentes, 25 anos.
Na onda de investimentos da SuperVia estão previstos ainda mais 20 trens com ar-condicionado, formando assim uma frota de 54 carros gelados — o que representa 37% das 159 locomotivas que hoje rodam nas 89 estações.
Intervalos menores
O valor total do projeto, que inclui diversas melhorias técnicas na rede, menos visíveis para o usuário, é de R$ 150 milhões. O objetivo é aumentar o volume de passageiros para 650 mil por dia. Com os avanços no sistema, a SuperVia planeja diminuir os intervalos entre as partidas para até 3 minutos. “Antes eles eram bem maiores. Hoje há mais oferta de carros, mas ainda faltam vagões com ar. Mesmo assim, acho ótimo: fujo dos engarrafamentos e chego mais rápido aonde quero”, defende a fisioterapeuta Aline Ribeiro, 28, que usa trem duas vezes por semana.
O objetivo das reformas é oferecer mais conforto e segurança ao passageiro, que tem mudado de perfil e se tornado mais exigente. De acordo com pesquisa do Ibope feita no fim de fevereiro, 65% dos usuários são da classe C e outros 25% da classe B.
As mudanças no perfil socioeconômico dos passageiros são notadas em uma única viagem. Grupos de universitários circulam ao lado de homens engravatados e trabalhadores humildes. Não à toa, o levantamento do Ibope revelou que 46% do usuários têm o 2º grau completo e 17% concluíram ou estão cursando o Ensino Superior — número quatro pontos percentuais maior que o de 2007.
Para o gerente de marketing da concessionária, José Carlos Leitão, o aumento do poder aquisitivo dos passageiros é resultado das melhorias já realizadas: “Cerca de 5 mil pessoas da classe A pegam trem todos os dias. É um público que não imaginávamos ter há alguns anos. Com isso, a exigência só aumenta”.
Opção aos engarrafamentos
A pesquisa do Ibope revelou dados interessantes sobre o perfil do usuário de trem. Ao contrário do que muitos podem imaginar, 18% dos passageiros optam por viajar de trem mesmo tendo carro em casa. “Até tenho estacionamento de graça no meu trabalho, mas levo só 15 minutos de trem até lá. De carro, seria uma hora, mais o estresse do trânsito com engarrafamentos. Já chegaria esgotado ao trabalho. Não tenho mais paciência para isso”, diz o analista de sistemas Leonardo Correa, 30 anos.
Morador do Méier, ele trabalha no Rio Comprido e, mesmo complementando o transporte com ônibus, é um exemplo perfeito
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