Comparados a doenças, que se não forem tratadas com firmeza e rapidamente, se tornam irreversíveis: o trânsito, o congestionamento e a ineficiência das grandes cidades estão listados como as primeiras emergências a serem atendidas nas metrópoles brasileiras, quando se trata de transporte urbano, segundo o consultor da empresa PA Connection e membro da Comissão Metroferroviária da Associação Nacional de Transportes Públicos – ANTP, Peter Ludwing Alouche.
Autor de centenas de trabalhos publicados em revistas técnicas nacionais e internacionais, o engenheiro eletricista Peter Alouche admite que o Brasil é um país maravilhoso, que tem 80% de sua população nas cidades, mas que as cidades não foram preparadas para receberem tantas pessoas. Como exemplo ele aponta a capital paulista. “Acho que São Paulo hoje precisa de cirurgia, está quase na UTI, em termos de urgência, e infelizmente nós não temos tido propostas concretas. Fala-se em construção do metrô, mas tem que construir rápido. A linha 4 está demorando, a linha 5 tem que ser construída(…).”
Outro exemplo é Curitiba, que na avaliação de Peter Alouche, tem o modelo de planejamento mais adequado para metrópole. “Mas a cidade cresce e ao crescer ela tem que se adaptar a esse crescimento. Então, hoje já se vê que Curitiba necessita de um transporte de massa sobre trilhos subterrâneos.” Em sua análise conclui que “o Brasil é um país que vai ter uma explosão demográfica… é o país que mais se urbaniza no mundo, junto com a China. Então, não adianta dizer que Curitiba vai ficar como está, que São Paulo não vai crescer mais.”
Para Peter, os desafios para o transporte sobre trilhos nas cidades brasileiras estão relacionados aos recursos. “Um transporte de metrô, é um transporte que exige grandes investimentos.(…) Hoje em dia todas as cidades francesas são deficitárias por implantarem sistemas de transporte sobre trilhos bons, magníficos, mas são caros e quanto cabe ao município pagar isso? Então, o transporte toma espaço de outras necessidades.” Peter Alouche concede a entrevista à CBTU para a Série Perspectivas Metroferroviárias – O transporte e as Cidades”, em 27 de março. Leia a seguir na íntegra:
CBTU – A Cidade nos Trilhos: Qual é a sua visão sobre o transporte urbano de passageiros sobre trilhos nas cidades brasileiras?
Minha visão é que as cidades cresceram de uma maneira extremamente desordenada, de uma maneira explosiva, que não foi acompanhada de uma infra-estrutura necessária, para dar a correspondente qualidade de vida a essas cidades. O Brasil é um país maravilhoso que tem hoje 80% de sua população nas cidades, mas as cidades não foram preparadas para receber estas pessoas. Eu acabo de voltar de Buenos Aires, uma cidade que foi construída ao estilo hispânico, avenidas largas, longas, prédios que não são muito altos, quando a gente vê São Paulo e até mesmo o Rio de Janeiro, super adensados, e com suas populações querendo fugir dessa concentração, dessa poluição, correndo para as periferias. Isso acaba criando problemas no transporte, e suas conseqüências como o congestionamento. É uma pena, porque São Paulo e Rio são duas cidades que são predestinadas a serem capitais do mundo global. Elas precisam resolver rapidamente seus problemas de ineficiência. São Paulo que é a maior cidade da América do Sul e certamente a cidade mais preparada a ser a capital global, do mundo econômico, do mundo dos negócios, com os congestionamentos que tem tido nestes últimos tempos e com a violência no trânsito, poderá ceder seu lugar a Buenos Aires, se não forem reforçadas as providências que mesmo tardiamente estão sendo tomadas. Hoje temos em São Paulo o maior investimento em metrôs que já surgiu na história do Brasil e no Rio de Janeiro também vem investindo. O Rio de Janeiro, no meu entender, tem menos problemas do que a capital paulista, porque o Rio de Janeiro manteve a sua parte viva não tão poluída e congestionada como São Paulo. Mas precisa construir sua infra-estrutura a qual se resume a infra-estrutura de transporte. É aí que o metrô se apresenta como a solução mais viável, mais ecológica e mais econômica.
CBTU – A Cidade nos Trilhos: Se não forem tomadas providências para ordená-las, as metrópoles brasileiras podem chegar ao ponto em que São Paulo se encontra?
Eu acho que, infelizmente, com algumas raras exceções, as metrópoles brasileiras estão tomando o caminho que eu chamaria de semelhante ao de São Paulo. Por exemplo, Fortaleza que é uma cidade maravilhosa, está crescendo de uma maneira explosiva, o metrô de Fortaleza é uma coisa extremamente urgente e necessária, mas está demorando, Recife à mesma coisa, Belo Horizonte é uma cidade que eu ainda acho que dá para ser salva. Curitiba é uma cidade exemplar, uma cidade paradigma para o mundo, não só para o Brasil, e América Latina, mas para o mundo, mas precisa, em seu crescimento, adequar seu sistema de transporte, o seu sistema de ônibus que foi exemplo no mundo, já não dá mais, tem que ser transformado também, tem que virar um sistema de transporte rápido. Houve uma época em que se dizia que a informática, ou a internet, as telecomunicação iriam diminuir a necessidade de deslocamento, isso não é verdade, não aconteceu, pelo contrário, quanto mais há internet, há telecomunicação, mais as pessoas tem disponibilidade e precisam se movimentar, seja para o trabalho, seja para o lazer. Eu acho que as cidades, excluindo São Paulo e Rio de Janeiro, que já estão com problemas endêmicos, o resto das cidades dá para salvar. Porto Alegre é uma cidade maravilhosa, dá para salvar. Digo salvar no sentido de que dá para não chegar ao nível problemático que atingiu a capital paulista.
São Paulo é uma cidade autofágica, ela se auto destrói, ela constrói sua infra-estrutura e depois destrói. Essa afirmação não é minha, é de um urbanista sueco. Eu nunca vi! Cria-se um centro em São Paulo, destrói-se, abandona-se, cria-se um outro centro paulista, abandona-se novamente e cria-se um novo centro. Eu diria que planejadores existem, não tem é planejamento, mas tem planejadores. Um exemplo são as “Alfavilles paulistas”, construídas aqui, ali e acolá, mas para chegar lá só se pode chegar com carro. Esse é o problema que São Paulo tem que enfrentar, e que outra cidade tem que tomar cuidado para não repetir.
Isso como conseqüência emperra o desenvolvimento, porque se torna uma ilha. Hoje, em São Paulo, para fazer uma hora de reunião, você tem que ter 4 horas, então isso tem um custo. Os acidentes, hoje temos duas mortes por motocicleta, por dia, duas mortes de jovens, não estou falando dos feridos. Há violência no trânsito porque as pessoas estão estressadas, tudo isso é problemático. Acho que São Paulo hoje precisa de cirurgia, está quase na UTI, em termos de urgência, e infelizmente nós não temos tido propostas concretas. Fala-se em construção do metrô, mas tem que construir rápido. A linha 4 está demorando, a linha 5 tem que ser construída, a linha 6, ótimo, ótimo isso como infra-estrutura. Tem também que fazer o corredor de ônibus como previsto. Ontem no corredor vereador José Diniz, no Ibirapuera, tinha, eu vou chutar, mais de 3 km de ônibus interligados, porque o sistema de ônibus que estava previsto não foi contemplado, era para se ter ônibus maiores e circulando em vai e vem como o metrô, dentro do corredor, então estas medidas têm que ser complementadas com urgência.
CBTU – A Cidade nos Trilhos: Na sua avaliação, qual seria o modelo de planejamento mais adequado para as metrópoles brasileiras?
Curitiba é uma das poucas cidades, que nem dá para corrigir porque ainda não esta danificada, Curitiba é um bom exemplo de um planejamento, agora, todo planejamento é feito com tempo, tem um determinado tempo. Então desde que o Jaime Lerner, nos anos setenta e poucos, planejou o corredor de ônibus, foi perfeito, Curitiba esta perfeita, mas a cidade cresce e ao cr
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