Quando, cerca de 50 anos atrás, o modal rodoviário ganhou força no mundo, impulsionado pelo petróleo barato e pelo interesse das montadoras de veículos em incrementar suas vendas, o transporte ferroviário perdeu o apoio dos governos, estacionou, até regrediu. O american way of life exigia pelo menos um carro por família. E, nas cargas, o diesel barato e abundante, conseqüente do próprio processo de craqueamento do petróleo, impulsionou o transporte rodoviário. A carga agora tinha de ser levada da porta da fazenda ou da fábrica diretamente à porta do consumidor ou revendedor, por caminhão. Até os navios se adaptaram: para que não fosse preciso descarregar o caminhão num porto e carregar em outro, criaram o sistema roll-on-roll-off, o ro-ro. O caminhão inteiro, ou pelo menos a carreta, eram colocados a bordo deste imenso ferry-boat, junto com a carga. Rapidez era a ordem, fosse ou não necessária.
O que parecia progresso agora revela a sua nova face. Os combustíveis fósseis estão acabando. Os produtores de petróleo manipulam politicamente os preços (agora em euros, pois já são evitados os chamados petrodólares). E os combustíveis renováveis beneficiarão igualmente mais os países produtores, deixando grandes nações em situação de dependência.
Nessa armadilha, os EUA estão sendo apanhados agora. E, com esse país, todos os que acreditaram no irresponsável modo estadunidense de viver. Que, além de tudo, apresenta sua conta ao planeta: o custo da impressionante poluição que até já alterou o clima. Para não se falar no desperdício de recursos econômicos que agora ameaça colocar o gigante ocidental em uma nova e gravíssima recessão.
Um sinal disso, na opinião de especialistas, é que a principal ferrovia, a texana BNSF Railway, está com milhares de vagões estacionados em Montana por falta de carga. Um verdadeiro muro de vagões (mais de mil), antes usados para transportar contêineres com carga asiática, já se formou entre o rio Missouri e a localidade de Craig. A empresa não revela quantos outros estão estacionados no resto do país. Para sorte dela, a movimentação de carvão, em alta, ajuda a manter números positivos no balanço geral.
É neste complicado contexto que os olhos se voltam novamente para o modal ferroviário. Capaz de transportar de modo bem mais econômico e menos poluente grandes quantidades de carga. Só que os espaços para as ferrovias são pequenos, principalmente nos grandes centros, e elas precisam no mínimo ser duplicadas (isto é, com mais uma linha ao lado das atuais), seja nos países mais adiantados, seja nos que ainda estão em desenvolvimento.
Nos EUA, faltam até mesmo opções de desvio para retirar trens de carga da linha principal, o que faz com que os de passageiros sofram grandes retardos. Afinal, quem duplicou e até decuplicou (de preço) foram os terrenos ao lado das ferrovias, por força do crescimento urbano. Afora que, se o impulso tivesse sido mantido nas últimas décadas, hoje as ferrovias estariam melhor aparelhadas com veículos e sistemas de sinalização e monitoramento que lhes permitiriam apresentar melhor aproveitamento em sua capacidade de transporte.
Naquele país, um estudo da Universidade de Missouri já demonstrou a necessidade de separar as vias para transporte ferroviário de passageiros ou de cargas, como forma de eliminar as interferências e agilizar os serviços.
No Brasil, isso não é necessário: décadas de desestímulo praticamente eliminaram o transporte ferroviário de passageiros (à exceção dos metrôs e de algumas linhas suburbanas). As empresas privatizadas tentam investir nas linhas, mas também é preciso que o governo faça a sua parte, eliminando os entraves burocráticos que ainda afetam o setor, melhorando a legislação, criando condições para esse desenvolvimento ferroviário que o país requer.
Mas, um indicativo de como pensa o governo brasileiro pode ser visto no entorno do principal porto, Santos: estuda-se a criação de uma terceir
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