No epicentro de uma investigação internacional, em que é suspeita de patrocinar propinas a servidores públicos, a Alstom fechou dois novos contratos públicos no Brasil, num total de quase R$ 800 milhões. O maior contrato, de 280 milhões de euros (R$ 700 milhões), foi firmado com o Metrô de São Paulo.
Contratos anteriores da multinacional com a estatal paulista, em governos do PSDB, são foco das investigações na Suíça: de US$ 45 milhões (R$ 67,5 milhões) negociados, US$ 6,8 milhões (R$ 10 milhões) seriam comissões ilegais.
Outro contrato, fechado ontem, prevê parceria da Alstom nas obras da hidrelétrica de Santo Antônio, no Rio Madeira.
O presidente mundial do grupo Alstom, Patrick Kron, veio ao país fechar os contratos e, segundo ele, para dizer que “a Alstom não está com uma doença vergonhosa” nem paga propinas a servidores.
Kron disse considerar que a assinatura dos contratos, firmados por meio de concorrência do governo paulista, com o Metrô, e por joint venture com a brasileira Bardella, para a hidrelétrica, podem marcar uma mudança da imagem da empresa.
— Essa situação coloca as nossas atividades no Brasil em risco — disse Kron.
A Alstom movimentou no Brasil, em 2007, 1 bilhão de euros (cerca de R$ 2,5 bilhões), cerca de 50% em exportações a partir do Brasil. Mundialmente, o grupo francês movimentou 16 bilhões de euros, o que torna a base brasileira a sexta colocada no ranking interno de faturamento, segundo Kron, que frisa o fato de o grupo estar instalado no país há quase 50 anos.
— O momento atual da economia brasileira apresenta grandes oportunidades. Há muito não se investia tanto em infra-estrutura, em energia, em transporte, que são nossas principais áreas. Não permitiremos que insinuações publicadas pela imprensa prejudiquem nossos negócios — disse.
O contrato fechado na última quinta-feira prevê o fornecimento do sistema de controle automatizado para as linhas 1, 2 e 3 do Metrô. O projeto prevê a renovação de todo o sistema atual de controle de trens. É o maior projeto de sinalização já conquistado pela Alstom. A entrega do sistema começa em 2010.
— Isso significa que nós investigamos as denúncias, com auditorias independentes, assim como o Metrô, e verificamos que não têm fundamento. Esse contrato significa que nossos parceiros mantêm total confiança em nossa empresa — disse.
Para participar das hidrelétricas do Rio Madeira, em Rondônia, a Alstom Hydro fechou a joint venture com a Bardella, criando a IMMA (Indústria Metalúrgica e Mecânica da Amazônia).
A fábrica será instalada em Porto Velho. Para a Santo Antonio, a Alstom fornecerá 19 turbinas do tipo Bulbo (para baixas quedas de água). O projeto integra o consórcio EPC, comandado pela Odebrecht.
O grupo prevê ainda outros investimentos de porte no Brasil. Um dos focos é o trem-bala que deverá ligar Rio e São Paulo, com uma base em Campinas.
— Sem dúvida, vamos participar desse projeto. Nós somos extremamente qualificados. No momento, a bola está no campo das autoridades, que ainda lançarão os editais. Daí, estaremos lá — disse Kron, frisando que o grupo é dono de 70% dos projetos de trens com velocidade superior a 300 quilômetros por hora em todo o mundo.
As denúncias de pagamento de propinas pelo grupo — investigadas no Brasil pelo Ministério Público Federal e Ministério Público de São Paulo, e ainda por promotores da Suíça e da França— foram tratadas por Kron como especulações, que visam apenas atingir a empresa, empenhada em energias renováveis e transportes pouco poluentes, como os trens de alta velocidade.
Ele acusou a imprensa de condenar a Alstom, antes que tenha sequer sido denunciada à Justiça em algum dos países.
— Os jornais, a partir do “The Wall Street Journal” (primeiro a denunciar o caso, em maio), usaram de tudo para nos condenar, antes mesmo que fôssemos levados a julgamento. Estão usando de tudo para construir uma
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