O governo chinês está de olhos bem abertos para o potencial das relações bilaterais com o Brasil e, em especial, com o Ceará. Ontem, durante visita de cortesia do embaixador da República Popular da China no Brasil, Chen Duqing, ao governador Cid Gomes, foi dado mais um passo para a aproximação entre a nova superpotência econômica global e o Estado. No foco dos investimentos mútuos estão áreas como mineração, siderurgia, energia alternativa, infra-estrutura logística (ferrovias e portos) e até o setor de alimentação.
Chen Duqing afirmou que grupos privados chineses querem ampliar investimentos na prospecção de minério de ferro no Ceará. ´Os negócios não devem ficar apenas na escavação, mas evoluir para a produção de gusa e até a pelotização´— tratamento a que se submete um minério visando a aglomerar suas partículas a fim de propiciar maior facilidade em operações metalúrgicas subseqüentes —, disse.
Mas, acrescentou que é necessário criar condições de financiamento para produção de aço no Brasil. ´É melhor levar placa de aço pronta do que o minério. A China hoje produz 500 milhões de toneladas ao ano e o Brasil apenas 30 milhões. Faltam auto-fornos´, lembrou.
Outra área confirmada de interesse é a de energias alternativas. O embaixador ficou sabendo da joint venture entre a chinesa Yingli e a brasileira MPX para construção de uma usina solar com capacidade de 50MW, em Tauá. ´O projeto está avançado e a obra da usina deve começar este ano´, informou o governador. O investimento na segunda maior usina solar do planeta é de US$ 250 milhões e a Yingli vai fabricar os painéis fotovoltaicos.
´O Brasil tem um sol maravilhoso. Vi aqui no Ceará algumas instalações de energia eólica e estamos avançando muito rápido na produção de equipamentos na área de energia sustentável´, comentou o embaixador, que ainda não conhecia o Estado. ´´Estou há dois anos no Brasil e tenho admiração especial pelo Ceará´, comentou. Ele cumpriu agenda com os presidentes da Adece, Antônio Balhmann, do Cede, Ivan Bezerra, e da Assembléia, Domingos Filho. A menina dos olhos dos chineses, no entanto, é a área de infra-estrutura. De acordo com Chen Duqing, seu país ´pode ser um bom parceiro não só na parte comercial como no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento)´.
´A China tem avançado muito na construção de ferrovias, estradas e portos. Conseguimos construir, em média, mil quilômetros de ferrovias por ano´, disse. Para ele, a experiência pode ser utilizada no Ceará, na construção de ramais para escoamento do minério de ferro beneficiado.
Dados da Fiec mostram que a China assumiu este ano a posição de principal país-origem das importações cearenses com participação de 16,3%. É responsável pelo fornecimento de laminados de ferro/aço. No tocante às exportações, a República chinesa representa o 8º parceiro comercial cearense, com quase US$ 18 milhões negociados nos sete primeiros meses do ano. O volume representa um crescimento de 51,6%, ante igual período do ano passado. Brasil e China têm semelhanças na condução da política desenvolvimento. Conforme o embaixador, o governo federal brasileiro ´está querendo focar o desenvolvimento no Nordeste´, assim como a república chinesa vem descentralizando a atuação governamental. ´A China tem experiência com a abertura econômica e agora está querendo interiorizar o desenvolvimento, com ações não só no litoral. Mas, o nosso governo não tem dinheiro para bancar tudo e, por isso, precisa ter regras menos rígidas para acelerar o investimento privado´, comentou Duqing.
Falta celeridade a projetos
As semelhanças, porém, acabam aí. Para o embaixador, os chineses levam vantagem sobre o Brasil quando o assunto é celeridade na concretização dos projetos. ´Na China, um projeto siderúrgico leva dois anos para ficar pronto. Aqui, são três: um para decidir se vai instalar e mais dois para construir´, disse. ´O Brasil é meu segundo país e espero que cresça. Mas, tem de trabalhar com mais obstinação e persistência´, reforçou Duqing. Segundo ele, em seu país há um grupo governamental que é capaz de aprovar projetos de grande porte em uma semana. ´É preciso agilidade. Nossa língua é um complicador e, por isso, procuramos ter celeridade nos trâmites´.
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