Ponto central de uma região rica em produção de grãos e carne, que inclui os Estados de Goiás, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, além de um bom pedaço de Minas Gerais, Brasília se qualifica para ser o centro dessa parte do Brasil. Seu PIB já é o 8º maior do país, equivalente a 3,7% do produto nacional, 1,3 ponto percentual acima do de Goiás, o segundo Estado mais rico do Centro-Oeste.
“Brasília é o centro de gravidade de uma região geoeconômica grande”, observa o governador José Roberto Arruda (DEM). “A cidade é vista fora daqui apenas como o Plano Piloto, que é a cidade administrativa. Ocorre que agora as cidades-satélites, e são 29, estão buscando vida própria. 2007 foi o primeiro ano em que, no Distrito Federal, o consumo de energia elétrica residencial cresceu menos que o de energia industrial. Isso mostra que as empresas estão buscando aumentar o seu porte e novas empresas estão vindo para cá.”
O projeto de Arruda é transformar o centro geográfico em centro econômico. O plano é ambicioso e depende fundamentalmente do apoio do governo federal, ao qual, politicamente, o governador de Brasília faz oposição – Arruda é, neste momento, o único governador eleito pelo DEM. A idéia é construir um ramal ferroviário de 150 Km entre a capital e Anápolis (GO), integrando o Distrito Federal, portanto, ao traçado da Ferrovia Norte-Sul, que está em construção.
Um outro ramal, de 70 Km, ligaria a cidade até Unaí (MG) e, assim, à ferrovia Leste-Oeste, também em construção. “Isso consagraria a vocação de Brasília para funcionar como entreposto”, diz Adriano Amaral, subsecretário de Desenvolvimento do Distrito Federal e principal idealizador dos projetos de desenvolvimento do governo.
Paralelamente à interligação com as duas ferrovias, o governo brasiliense quer construir um segundo aeroporto, integrado à malha ferroviária e destinado principalmente ao transporte de carga. Sua gestão já nasceria privada. Arruda e seus assessores apresentaram o projeto ao Palácio do Planalto. “Lula quer o aeroporto”, garante o vice-governador Paulo Octavio, que acumula o posto de secretário de Desenvolvimento.
Outro projeto ousado em gestação é a criação da “Cidade Digital”, um pólo voltado exclusivamente para empresas devotadas ao desenvolvimento tecnológico e à inovação científica. O governo ainda não definiu como será a gestão desse pólo, mas a tendência é que seja transferida à iniciativa privada, em regime de concessão. Em países como Cingapura esse modelo, garante Amaral, funciona bem. O objetivo é atrair grandes “players”, em vez de empresas ainda distantes do estado-da-arte do ponto de vista tecnológico.
Com suas 105 instituições de nível superior, Brasília tem, em tese, vocação para fornecer pessoal qualificado aos projetos. O problema, diz o presidente da Federação das Indústrias de Brasília (Fibra), Antônio Rocha, é a “concorrência desleal” do setor público, que paga salários quatro vezes superiores, em média, aos da iniciativa privada, segundo dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos (Dieese). “Um engenheiro civil recém-formado ganha R$ 2.500 por mês, mas ele fica pouco tempo no emprego. Logo faz concurso público e deixa a empresa”, diz Rocha, dono de uma construtora.
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