O setor privado toma a frente

Dentro de alguns dias, trens da América Latina Logística (ALL) que fazem a ligação entre o interior de São Paulo e os estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso começarão a transportar uma mercadoria cuja produção se encontra em franco crescimento em toda a região: o etanol. Trens que partem de cidades como as paulistas Araraquara e Bauru e a mato-grossense Alto Taquari seguirão carregados do combustível rumo a Paulínia, perto de Campinas, onde farão a entrega na Refinaria do Planalto, base de distribuição para os postos. Para a ALL, trata-se de uma forma de aproveitar melhor seu equipamento — até agora, os vagões-tanque que levam óleo diesel para o interior voltam vazios. Para seus clientes, entre eles os grupos Copersucar, Cosan, CrystalSev e Usinas Guarani, será a criação de um novo — e mais econômico — canal de escoamento, hoje todo feito por caminhões. A expectativa é que as ferrovias movimentem 2 bilhões de litros de álcool no próximo ano. O aspecto mais interessante do investimento é o fato de ser totalmente privado. Os 100 milhões de reais necessários para novos vagões, instalação de centros coletores e estrutura de descarga serão divididos entre a ALL e seus clientes, o que inclui, além das usinas, distribuidoras como Shell, BR e Repsol. “É o que chamamos de ‘ganha-ganha’, no qual para cada real que colocamos os clientes colocam mais 1”, afirma Bernardo Hees, presidente da ALL. “E assim eles ajudam na nossa expansão.”


Exemplos como esse indicam uma tendência que começa, afinal, a ganhar corpo: a do setor privado brasileiro tomando a frente na criação de saídas para os nós logísticos do país e investindo mais intensamente em infra-estrutura. “Hoje, existe um ânimo empresarial muito positivo para investimentos desse tipo”, diz o economista Cláudio Frischtak, sócio da consultoria Inter B e autor de diversos estudos sobre o tema. A continuidade da onda depende da manutenção de condições propícias que foram se moldando ao longo de anos. A primeira é a estabilidade da moeda, com inflação domada e taxa de juro de longo prazo mais baixa. Outra mais recente é a retomada do crescimento. E a terceira — esta localizada em algumas áreas, mas ainda ausente em outras — é a existência de um ambiente regulatório firme.


Nova fase


É visível que os setores em que o investimento privado começa a deslanchar são justamente aqueles que já contam com regras mais claras e estáveis. É o caso das ferrovias, privatizadas há pouco mais de dez anos. Nesse período, as concessionárias tiveram de investir bilhões de reais para recuperar o equipamento sucateado que herdaram das antigas companhias estatais. Foram bem-sucedidas: duplicaram a quantidade transportada de minérios e quase triplicaram o volume de produtos agrícolas, ao mesmo tempo que reduziram o número de acidentes a um quinto. Agora, o setor entra numa fase de ampliação. “A expansão da malha ferroviária vai se acelerar nos próximos 15 anos”, diz Manoel Reis, coordenador do Centro de Excelência em Logística da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. No cenário mais otimista, o Brasil pode ganhar 20 000 quilômetros — a malha atual é de 29 000 — de novas linhas até 2025, com investimento superior a 50 bilhões de reais. A ALL já se move para construir parte disso. No momento, a empresa negocia a formação de um consórcio com a construtora Constran e dois fundos de investimento em infra-estrutura para fazer um prolongamento de 250 quilômetros da Ferronorte, de Alto Araguaia até Rondonópolis, região produtora de grãos em Mato Grosso. O projeto é estimado em 710 milhões de reais. “O grupo de investidores de longo prazo vai bancar a construção da linha, nós iremos operar e eles receberão por tonelada transportada durante 25 anos”, diz Hees. “É uma equação totalmente privada.” O modelo, apelidado de parceria privada-privada, em alusão às PPPs, parcerias entre os setores público e privado que não vingaram ainda no Brasil, poderá ser repetido para concretizar outros projetos.


É preciso fazer mais


As parcerias se mostram mais viáveis também porque hoje há capital privado em busca de oportunidades de financiar a construção da infra-estrutura — e lucrar com ela. É uma situação bem diferente da que prevalecia até bem pouco tempo atrás. “Há quatro anos, quando decidimos partir para a construção de nosso porto, não encontramos um cristo que nos emprestasse”, diz Carlo Botarelli, presidente da Triunfo Participações e Investimentos, dona do terminal de Navegantes, no litoral catarinense, e concessionária de três rodovias em cinco estados. “Hoje, os bancos nos procuram para oferecer dinheiro.” O BNDES, agora empenhado em estimular o setor, prevê 178 bilhões de reais para a infra-estrutura. Há também agentes privados disputando os melhores projetos. Constituído há dois anos, o Fundo Infra-Brasil, do Banco Real, conta com 940 milhões de reais para financiar o capital de empresas de infra-estrutura ou participar delas. Do total, 43% já foram desembolsados, a maior parte em projetos de energia renovável. “Há muitas oportunidades de investimento. Queremos formar um novo fundo no ano que vem”, diz Geoffrey Cleaver, gestor do Fundo Brasil-Infra.


O capital, porém, só irá para as áreas em que as regras são consideradas confiáveis. No setor de portos, por exemplo, há uma ameaça de mudança regulatória que, dependendo do que for decidido, pode travar os investimentos. A área de aeroportos, palco de enormes deficiências, nem sequer foi aberta para o investimento privado. Mas, com o crescimento da demanda e a falta de capacidade do governo para atendê-la, o cenário pode mudar, a exemplo do que ocorreu no setor de energia — que de patinho feio no passado virou uma estrela. “O marco regulatório ficou mais transparente e agora está se consolidando”, diz Wilson Ferreira Júnior, presidente da CPFL, uma das maiores geradoras e distribuidoras de energia do país, que anunciou investimentos de 5 bilhões de reais até 2012. A maior parte será destinada à conclusão de Foz de Chapecó, a sexta usina construída pela CPFL desde 2002. “Só o crescimento da população gera um acréscimo de 250 000 consumidores por ano na nossa área de atuação”, diz Ferreira.


O alento dos investidores — e soluções do governo nas áreas ainda travadas — será fundamental para que o Brasil aumente o investimento em infra-estrutura. Desde o início da década, o país patina na faixa de 2% do PIB investidos por ano. Países como China, Índia e Chile investem o triplo. O governo terá de fazer mais, e o setor privado também. A julgar pelos movimentos recentes, pelo menos as empresas privadas começam a fazer a sua parte.


Matéria publicada em 21/08/2008

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Fonte: Portal Exame

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