Todos os candidatos disputam a paternidade do futuro metrô de Porto Alegre mas, independentemente de quem vença a eleição, o novo prefeito poderá, no máximo, reivindicar uma vaga de padrinho da obra.
Apesar dos discursos empolgados, o projeto depende de recursos federais para sair do papel, a obra não poderia ser concluída em uma só administração e o plano que detalha diretrizes é discutido há mais de cinco anos entre município, Estado e União.
Com protocolo de intenções assinado em junho pelas três esferas de poder, o Sistema Integrado de Transporte seria implantado em três etapas, por três décadas. O sonho é ambicioso, projetando uma rede circular de 37 quilômetros de metrô, a um custo de R$ 3,9 bilhões. O plano prevê melhorias nos sistemas de ônibus, com novo traçado de rotas, bilhetagem eletrônica e 200 quilômetros de melhorias viárias em 13 municípios, para integrar o sistema metropolitano.
Contando com o anúncio de verbas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Mobilidade Urbana no primeiro trimestre de 2009, a expectativa da Trensurb, responsável pela obra, é iniciar a primeira etapa do metrô em 2010. Se a meta for cumprida, até a Copa de 2014 o novo prefeito poderia ajudar a inaugurar 13 quilômetros de rede subterrânea interligando a Voluntários da Pátria e a Estrada João de Oliveira Remião. Mas faltam passos concretos. O principal deles, segundo o diretor-presidente da Trensurb, Marco Arildo Cunha, é a decisão do governo federal de tocar o projeto.
– Já teríamos recursos para começar os estudos de licitação, mas tudo depende da decisão federal de fazer a obra. O papel do prefeito é importante para garantir essa mobilização, a União não vai fazer a obra se a cidade não exigir, ou se preferir investir em corredor de ônibus – analisa.
A partir do aval federal, teriam de ser iniciados projetos de engenharia, de impacto ambiental e de viabilidade econômico-financeira, que demorariam nove meses para serem executados. Coordenador-geral do grupo executivo responsável pelos estudos de integração do transporte público da Região Metropolitana e funcionário público municipal há duas décadas, o arquiteto Severino Feitoza tem convicção de que a eleição não alterará os rumos do projeto.
– A prefeitura é importante e tem de estar envolvida, claro, mas não é ela quem vai bancar o metrô. Já transcendemos dois governos, no Estado e no município – afirma.
Feitoza tem motivos para acreditar na solidez do plano – os estudos já consumiram R$ 2,5 milhões, integraram todos os antigos projetos viários existentes e contam com o comprometimento das três esferas de poder:
– Não tem como voltar atrás, seria um retrocesso muito grande e um desperdício de dinheiro público. Mas o projeto é flexível, podem ser rediscutidas as prioridades de implantação. O metrô sozinho não resolve, só se estiver integrado com os outros sistemas.
O custo estimado da implantação da primeira etapa do metrô da Capital é de R$ 1,4 bilhão. Pelo menos metade desses recursos poderia ser aproveitada dos R$ 1,3 bilhão assegurados por uma emenda da bancada gaúcha no Congresso ao Plano Plurianual, a ser liberado para a Trensurb até 2011. Mas ainda falta a decisão política. E um bom padrinho, quem sabe.
Promessa repetida
A polêmica discussão sobre o metrô se estende há mais de uma década entre os candidatos a prefeito da Capital. A cada quatro anos, as promessas se renovam:
1996
A então candidata Yeda Crusius (PSDB) tinha como uma de suas principais propostas a construção do metrô. Dizia que a rede de ônibus estava superlotada. Na época, a proposta foi taxada de absurda pelo rival petista Raul Pont, que criticava a falta de um estudo de viabilidade técnica que apontasse a necessidade da obra e o alto custo incompatível com o orçamento municipal.
2000
O metrô passou a ser abraçado pelo PT e por praticamente todos os candidatos. Tarso Genro defendia não apenas a implantação do metrô, como também do aeromóvel, e chegou a se comprometer em iniciar a construção do metrô mesmo que a União não liberasse verbas previstas, caso eleito. Entre os 11 concorrentes, apenas três candidatos de partidos com menor representatividade (PCO, PSTU e Prona) não incluíam o metrô em sua plataforma de governo.
2004
O tema em torno do projeto de construção do metrô voltou a ganhar força na eleição seguinte, unindo candidatos de diferentes partidos, como Raul Pont (PT), Beto Albuquerque (PSB), Viera da Cunha (PDT) e Onyx Lorenzoni (então PFL, hoje DEM). Uma das questões mais debatidas e pouco respondidas era de onde iriam tirar o dinheiro para a obra.
RAIO X DO TRANSPORTE PÚBLICO
Transporte por trem metropolitano:
1 linha e 4 carros
236 viagens ao dia
Demanda: 160 mil passageiros transportados a cada dia Transporte coletivo por ônibus metropolitano
445 linhas e 1,5 mil ônibus
8.168 viagens ao dia
Demanda: 370 mil passageiros ao dia
Transporte coletivo por ônibus em Porto Alegre
362 linhas e 1.593 ônibus
23.343 viagens ao dia
Demanda: 1,34 milhão de passageiros ao dia
Transporte por lotação na Capital
66 linhas e 403 veículos
4.493 viagens em dia útil
Demanda: 54 mil passageiros ao dia
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