No escritório da ViaQuatro, concessionária liderada pela CCR que operará a Linha 4 do Metrô de São Paulo (Luz-Vila Sônia), cada sala tem o nome de uma estação da futura linha. Foi na sala Vila Sônia, terminal que será inaugurado em 2014, quando a linha passará a funcionar integralmente, que o presidente da concessionária, Luís Valença, falou sobre as expectativas e preparativos para início da operação da primeira Parceria Público-Privada (PPP) licitada no país. “Operaremos o sistema de metrô mais moderno do Brasil”, diz. A empresa investirá na Linha 4 cerca de US$ 340 milhões e receberá R$ 75 milhões de contraprestação do governo.
Com todos os contratos de fornecimento de materiais e sistemas em mãos, a ViaQuatro começa a pensar em investimentos adicionais. “Queremos implantar estacionamentos próximo às estações, e quem sabe um shopping integrado, como o da estação Santa Cruz”, diz Valença. Para o executivo, o maior desafio será, mesmo possuindo um sistema mais rápido, manter a sintonia com as outras linhas. “Não podemos entupir as demais linhas, a nossa comunicação será constante.”
O cronograma definitivo está pronto. Em 2010 serão inauguradas as estações Butantã, Faria Lima e Paulista em fevereiro, as estações Luz e República em abril, e a estação Pinheiros em agosto. As demais – Mackenzie-Higienópolis, Oscar Freire, Fradique Coutinho, São Paulo-Morumbi e Vila Sônia – serão entregues em 2014.
Em 2007, devido a indefinição sobre a liberação do canteiro de obras da estação Pinheiros, após o desabamento da obra, acidente que matou sete pessoas, o governo paulista cogitou adiar sua abertura para a segunda fase da operação. Ela é considerada uma das estações prioritárias – integra o Metrô à Linha C da CPTM – e importante para manter as projeções de demanda da linha, de 700 mil passageiros por dia na primeira fase. A obra está sendo realizada pelo consórcio Via Amarela, das construtoras Odebrecht, OAS , Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez.
Quando o contrato foi assinado, em novembro de 2006, a intenção era iniciar a operação com todas as estações no fim de 2008. Em novembro de 2007, a inauguração das seis primeiras estações foi adiado para o mesmo mês de 2009, e as demais para 2012. A liberação do canteiro de obras em maio permitiu que o governo desse ordem de serviço para a ViaQuatro e fechasse o cronograma. “O nosso contrato tem um cronograma diferente do inicial, mas não posso dizer que foi por conta da obra, já que meu contrato é com o Estado e meu cronograma é feito em sintonia com ele”, diz Valença.
Entre os últimos detalhes acertados com o governo paulista está a divisão da receita tarifária, já que a arrecadação é centralizada pelo Estado. A concessionária receberá um valor fixo de R$ 2,35 por passageiro, a ser atualizado anualmente de acordo com a inflação. Por passageiros exclusivos da linha, o repasse desse valor será integral. Por usuários compartilhados com outras linhas, a concessionária receberá 50% do valor. As gratuidades são cobertas pelo governo da mesma forma que é feito com o Metrô.
Durante a primeira fase da operação, que irá até 2014, 5% dos passageiros deverão ser exclusivos da Linha 4. Esse percentual passará para 10% com a inauguração das demais estações, quando é esperado que o movimento salte para 1 milhão de usuários por dia. Nos primeiros dez anos, se o movimento de passageiros ultrapassar a expectativa, o lucro será compartilhado com o Estado, assim como o prejuízo, caso o número esperado de passageiro não se confirme. Após esse período – a concessão é por 30 anos -, todo lucro ou prejuízo ficará com a ViaQuatro.
Entre os anos de 2010 e 2014, a ViaQuatro vai refazer os estudos de demanda para ver qual a necessidade de mais trens. Para início da operação, foram adquiridos 14 trens da Rotem. Diferente das outras linhas, os trens possuem ar condicionado, cabines interligadas e não têm maquinista. A tecnologia “driverless” permite que os trens sejam controlados por cabines externas. As estações terão um muro de vidro de 2,3 metros separando a plataforma dos trilhos, com portas alinhadas às dos trens.
O sistema usado será o Communications Based Train Control (CBTC), um mecanismo de controle via rádio que permite diminuição dos espaços entre trens, podendo levar 88 mil passageiros por hora e por sentido. O contrato de fornecimento foi fechado com a Siemens. O Metrô deve implementar esse sistema nas demais linhas a partir de 2010. Hoje a tecnologia usada nas linhas é a Automatic Train Protection (ATP), um pouco mais lenta por não permitir maior aproximação dos trens.
Para operar a linha, serão contratados cerca de 600 empregados a partir de 2009. Segundo Valença, a empresa procurará pessoas com experiência, mas oferecerá capacitação para trabalhar com o novo sistema. Entre os cargos mais qualificados, praticamente todas as vagas estão preenchidas por engenheiros que trabalharam no Metrô de São Paulo, de Buenos Aires e de Paris, onde o sistema CBTC já é utilizado.
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