Produtor de grãos quer viabilizar Leste-Oeste

Os produtores rurais de Mato Grosso resolveram entrar na disputa pela concessão da futura ferrovia Leste-Oeste, cujos estudos de demanda e viabilidade estão a cargo da estatal Valec Engenharia, Construções e Ferrovias. A estrada de ferro deve ligar Uruaçu, no norte de Goiás, a partir dos trilhos da ferrovia Norte-Sul, ao coração da mais importante área de produção agrícola de Mato Grosso, em Lucas do Rio Verde, até a região produtora de Vilhena, no sul de Rondônia.


Um consórcio de 21 cooperativas agropecuárias do Centro-Oeste criará uma sociedade de propósito específico (SPE) em associação com megaprodutores rurais, tradings e empresas operadoras de ferrovias para tirar do papel o sonho de uma alternativa logística de escoamento da produção rural via portos da região Norte do país. 


O consórcio estima capitalizar em até R$ 1,5 bilhão a nova empresa que administraria esse trecho da ferrovia. O plano dos produtores é aportar cinco sacas de soja por hectare para criar a empresa. As cooperativas ofereceriam parte de seus ativos (produtos em estoques) como recebíveis futuros para as empresas associadas na operação da estrada de ferro.


Estima-se uma carga potencial inicial de 10 milhões de toneladas de grãos pela ferrovia. “Vamos dar a garantia de escoamento. E isso vai crescer muito porque a ferrovia acaba viabilizando as áreas de pastagem degradadas da região”, diz o presidente do Consórcio Cooperativo Agropecuário Brasileiro (CCAB), Gilson Pinesso. Dono de 80 mil hectares em Mato Grosso, Pinesso diz que os produtores já fizeram mais de 2 mil quilômetros de rodovias em parceria com o governo do Estado. “É mais caro fazer ferrovia, mas não é difícil. Sem logística, não teremos futuro no médio prazo”. A CCAB reúne 15 mil produtores espalhados por 6 milhões de hectares de soja, milho e algodão. Neste ano, devem produzir juntos 16 milhões de toneladas de grãos. 


A nova ferrovia custaria, em seus 1,5 mil quilômetros, algo próximo a R$ 6 bilhões ao longo de dez anos. Mas o trecho Uruaçu-Lucas, considerado o “filé mignon” de 1 mil quilômetros no traçado, poderia ser feito por até R$ 4 bilhões. E poderia começar a funcionar em 2012. “Com a ferrovia, teríamos uma economia de US$ 1 bilhão só no frete de caminhão até o porto de Paranaguá”, diz o presidente da Associação dos Produtores de Soja (Aprosoja), Glauber Silveira da Silva. Estima-se custo inferior a R$ 3,5 milhões por quilômetros da ferrovia. “Somos os maiores produtores de grãos, quem mais usa fertilizantes, mas ainda temos a pior logística do país”, diz. O Estado produz 25 milhões de toneladas de grãos por ano. 


As negociações para a composição da nova empresa já começaram. Estão nas conversas a Louis Dreyfus Commodities (LDC), a Companhia Vale do Rio Doce e uma grande empresa especializada em logística no Meio-Oeste dos Estados Unidos, segundo apurou o Valor. Fundos de hedge e empresas chinesas, japonesas, canadenses e européias também têm conversado sobre o tema. O BNDES também já teria demonstrado interesse em financiar a empreitada. “Vamos parar de esperar e agir. Seremos donos de uma parte da ferrovia que transportará nossa produção”, entusiasma-se Gilson Pinesso, também presidente da Associação Mato-Grossense de Produtores de Algodão (Ampa).


A ferrovia também ajudaria a escoar a futura produção de fosfato e potássio, situadas próximas do traçado da linha, na região Centro-Oeste. Os produtores têm a concessão para explorar uma mina de rocha fosfática em Santa Rita do Trivelato (MT) e outra de potássio em Bonito (MS). Os produtores sabem que, sem opções logísticas, ficarão “ilhados” no Centro-Oeste e podem inviabilizar a produção na região. “Essa vai ser uma solução definitiva para o Centro-Oeste”, aposta o megaprodutor Otaviano Pivetta, controlador do grupo Vanguarda, com sede em Cuiabá (MT). “A ferrovia torna viável várias regiões daqui, mas também ajuda Rondônia, Goiás, Tocantins e Bahia”. O grupo de Pivetta, que deve faturar US$ 322 milhões neste ano, administra 280 mil hectares em 12 propriedades de Mato Grosso e Bahia. “Aquela região da ferrovia tem um passivo ambiental grande, não tem produtividade nem função social relevante”, avalia. “Por isso, essa iniciativa é ainda mais inteligente porque recupera áreas fora do sistema produtivo como essa.” 


Pivetta avalia um potencial produtivo de até 20 milhões de toneladas de grãos para o escoamento via ferrovia Leste-Oeste em três ou quatro anos de operações. “Se investir em tecnologia no nível que temos hoje nas melhores áreas, podemos elevar esse volume a quantidades bastante atrativas para quem for investir na ferrovia”, diz. “Para quem chegou aqui há 20 anos, quando precisávamos andar 200 quilômetros para fazer uma ligação para o Sul, as coisas parecem muito mais fáceis hoje”, diz o produtor gaúcho. 


 


 

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Fonte: Valor Online

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