Em meio ao trânsito intenso da região central de Sorocaba, pouca gente reparava num casarão quase em ruínas, escondido por um muro alto e mangueiras centenárias. Agora, as linhas elegantes de um legítimo chalé urbano edificado há 99 anos chamam a atenção. O imóvel, construído para abrigar engenheiros-chefes e superintendentes da antiga Estrada de Ferro Sorocabana (EFS), uma das principais ferrovias paulistas, está em fase final de restauração.
As obras, numa parceria entre o Instituto Brasileiro de Arquitetura (ABI), a prefeitura e empresas, revelam segredos da arte construtiva ferroviária, de acordo com a arquiteta Luciana Valsechi, responsável pela reforma. Na estrutura foram usados materiais da própria ferrovia, como os trilhos que encontramos no porão substituindo vigas de madeira. Durante as obras, a arquiteta pesquisou a história do casarão, que ficou conhecido como chalé francês por causa das telhas francesas usadas no amplo telhado. Na verdade, a arquitetura é inglesa, como a das estações ferroviárias da época. Luciana conversou com parentes de engenheiros que moraram ali.
Acabou descobrindo que a casa foi pintada sete vezes, o que foi confirmado por um trabalho de prospecção das tintas. Vamos expor as várias camadas de tinta em painéis protegidos por vidros. Numa das salas, foram encontrados, sob a tinta atual, pinturas com motivos florais, no estilo art nouveau. O forro do salão principal é original e está praticamente intacto. As janelas da varanda, em pinho de riga, foram restauradas por especialistas de São Paulo. Já as janelas laterais, expostas ao tempo, são de cedro e peroba. Provavelmente também eram de pinho de riga, mas estragaram, acredita a arquiteta.
A primeira etapa do restauro, já concluída, incluiu a recuperação do telhado, calhas e rufos, restauração dos caixilhos e janelas e pintura externa. Falta o restauro interno e do paisagismo do Jardim Maylasky, onde fica o casarão. O prédio, que pertence à Ferrovias Bandeirantes (Ferroban) e foi cedido à ABI, vai abrigar a regional do órgão e uma estrutura de suporte a turistas. Pensamos em ceder espaço para um café, com mesinhas sob as mangueiras do quintal. Além do chalé, o conjunto compreende o Museu Ferroviário, instalado num casarão vizinho do mesmo período, e o futuro Museu de Arte Contemporânea, que ocupará um armazém da Estação Ferroviária. O prédio da estação, de 1875, ainda precisa passar por restauro – a fachada foi apenas pintada.
Todo o conjunto está em processo de tombamento pelo patrimônio histórico municipal. A estação da Estrada de Ferro Sorocabana foi a primeira construção de tijolos de Sorocaba – até então só se usava taipa – e o prédio original só foi reformado em 1929. Sorocaba possui 27 bens históricos tombados, dos quais sete integram o patrimônio da prefeitura.
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