Lideranças do Município entrevistadas por O Diário ontem ficaram chocadas com o estado de abandono do complexo do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) em Campinas, onde o sistema ferroviário, uma espécie de bonde modernizado, funcionou entre 1990 e 1995. O Diário mostrou o fracasso do projeto naquela Cidade na matéria “VLT, o sonho que virou ferrugem”, publicada no último domingo. Parte dos ouvidos teme que o VLT, que o Governo do Estado quer implantar entre as estações Suzano e Estudantes, tenha o mesmo destino em Mogi das Cruzes.
Em vez de trazer as modernas composições do Expresso Leste até a Cidade, que chegarão em Suzano no ano que vem e são uma promessa de campanha de José Serra (PSDB), o Governo do Estado quer o VLT circulando no território mogiano e pretende extinguir os trens de subúrbio.
Em Campinas, as paradas ferroviárias do extinto VLT estão depredadas, sucateadas e pichadas. Há acúmulo de mato e lixo e, em vários pontos dos 7,8 quilômetros de trilhos, há acúmulo de lixo e mato, além de usuários de drogas.
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“Fiquei muito preocupado. O VLT existe na Europa porque lá há estrutura. Como remover os muros da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) sem deixar com que a linha fique perigosa para a população? Se o Expresso Leste virá até Suzano, por que não até Mogi? Se em Campinas, onde a população é bem maior do que em Mogi, as pessoas abandonaram o VLT, a tendência é acontecer o mesmo aqui”, avalia o vereador Francisco Moacir Bezerra de Melo Filho (PSB), o Chico Bezerra.
Presidente da Associação dos moradores do Jardim São Pedro e Região e sindicalista ferroviário, Adalberto Santana de Andrade está apreensivo. “Não houve a menor preocupação com a demanda. Mogi corre o mesmo risco de desperdício de dinheiro público. Na Europa, o VLT funciona como um complemento do transporte. Não como uma maneira de substituí-lo”.
Para Andrade, a obra de implantação do sistema pode ficar mais cara do que a vinda do Expresso Leste. “Será preciso adaptar trilhos e adequar as plataformas, que terão de ser mais baixas. Falam em R$ 400 milhões em investimentos para o VLT. Por que não atender a população e colocar o Expresso Leste?”, indaga o profissional.
Membro da Comissão Permanente de Obras e Serviços Públicos da Câmara, o vereador Jolindo Rennó Costa (PSDB) também mostrou-se indignado com o resultado do VLT em Campinas. “Não aconteceram os estudos necessários. É muito desagradável constatar que o dinheiro público foi abandonado num projeto hoje jogado às traças”, afirma o legislador. A remoção dos muros à beira dos trilhos, que integra o projeto de implantação do VLT, é o que mais assusta o parlamentar. “Quem vai segurar a peteca da segurança? Nós já temos problemas de atropelamentos e outros com os muros. Além disso, em caso de os vagões saírem dos trilhos, é alto o risco do impacto com o tráfego de automóveis”, afirma o tucano.
Outra dúvida do vereador é sobre a MRS Logística, transportadora de cargas pelo sistema férreo que tem direito de usar a linha, em parte, por meio de contrato de concessão assinado com o Governo Federal. “Seria preciso combinar com os russos. No caso, com a MRS. O VLT pode parar no semáforo, mas os trens da MRS não contam com o mesmo sistema de frenagem rápida, o que pode ser perigoso”.
Apesar de afirmar ser “estranho” e “lamentável” o estado do VLT em Campinas, o presidente da Câmara, Nabil Nahi Safiti (DEM) é a favor do sistema em Mogi. “Infelizmente foi lamentável o que aconteceu em Campinas. Mas esta foi uma outra época e a obra será fiscalizada pelos poderes públicos de Mogi. Vamos continuar lutando pela vinda do Expresso Leste. No entanto, enquanto não é possível o trem espanhol, sou a favor do VLT, que é um avanço. Mas vamos continuar lutando (pelo Expresso Leste)”, afirma.
Audiência
O deputado Luis Carlos Gondim Teixeira (PPS) pedirá à Comissão de Transportes da Assembléia Legislativa uma audiência pública para obter informações sobre o VLT. “A comunidade precisa avaliar se essa é a melhor solução para nossa Cidade”.
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