O deputado estadual Roberto Massafera deu, nesta semana, depoimento para o documentário ” O Apito do Trem” , falando da história da ferrovia desde o ciclo do café até os possíveis impactos da retirada dos trilhos e a ocupação da região que ficou conhecida como orla ferroviária, ao longo da Via Expressa em Araraquara e que atenderá Américo, Santa Lúcia, Rincão e outras cidades que têm ligação comercial, administrativa e cultural com Araraquara.
O roteiro de “O Apito do Trem” é assinado pelo produtor e documentarista Marcelo Machado. “Queremos provocar essa discussão sobre o que as pessoas querem para essa área” , disse Machado. A obra é financiada pela Lupo S.A. com recursos da Lei Rouanet de incentivo à cultura devendo ser lançado no segundo semestre.
Em sua gestão como prefeito de Araraquara (1993-96), Massafera resgatou a proposta de retificação dos trilhos, um ambicioso projeto urbanístico que já era motivo de discussões desde a década de 50 pelo então deputado estadual Amaral Gurgel. A proposta também foi objeto de estudos do prefeito Clodoaldo Medina (1983-88), elaborados pelo arquiteto e urbanista Francisco José Santoro.
Como prefeito, Roberto Massafera contou com o apoio do então deputado estadual Dimas Ramalho, hoje federal, e do deputado federal Marcelo Barbieri, atual prefeito de Araraquara. ” Cada um dos prefeitos que passaram pelo Executivo de Araraquara fez um esforço e deu a sua contribuição. É um projeto de longo prazo que, agora, a cidade deverá colher os frutos” .
Impacto
A construção das ferrovias pelo interior do País foi financiada pelo afortunado ciclo do café, a partir da segunda metade do século XIX. ” Por muito tempo, o trem foi o principal vetor de desenvolvimento e os povoados se aglomeraram ao longo das ferrovias. Acontece que essas cidades cresceram. Antigamente tínhamos quatro trens partindo de Araraquara. Hoje, há composições a cada hora circulando com centenas de vagões de carga pela malha urbana. O impacto para a qualidade de vida é muito grande” , considera Massafera.
O parlamentar considera um erro estratégico do Brasil ter privilegiado o transporte de carga rodoviário em detrimento do ferroviário, principalmente a partir da política dos governos militares. ” Uma composição de cem vagões carregados de soja para o porto de Santos retira trezentos caminhões das estradas. Além de ser mais barato e eficiente, o trem e a hidrovia fluvial e marítima aliviam a malha rodoviária e tornam as estradas mais seguras” .
As discussões sobre o modal de transporte é especialmente importante para Araraquara. Situada no centro do maior mercado produtor e consumidor do País, o município tem um grande potencial logístico a explorar, conectando ferrovia, rodovia, hidrovia e aerovias.
Ocupação
A extensa área de terra que divide a área urbana de Araraquara, apesar do impacto mobiliário, cumpre um importante papel de drenagem para as águas de chuva que descem da grande Vila Xavier. ” Temos muitas áreas urbanizadas onde Araraquara pode crescer. Não acredito que seja possível qualquer especulação imobiliária no local” , disse Massafera.
Para o parlamentar, a cidade precisa fazer uma profunda discussão técnica sobre o destino da orla ferroviária, incluindo diversos prédios e galpões abandonados. ” Precisamos pensar numa ocupação social, pública. Acho que poderia ser instalado um grande parque verde institucional, uma área de lazer com equipamentos públicos” , afirma Roberto Massafera que defende ainda a manutenção de uma linha de trem para, no futuro, servir exclusivamente ao transporte de passageiros, metrô de superfície.
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