Jaime Leitão, cronista e professor
Em um país que praticamente abandonou as ferrovias, é importante lembrar a data de hoje, que comemora o Dia do Ferroviário.
Comemorar de que jeito? Eu sou do tempo em que os trens chegavam na hora marcada e partiam sem atraso. Como era gostoso viajar de trem e descer na Estação da Luz, em São Paulo, depois de almoçar no restaurante do trem da Paulista, comer um filé a cavalo, com o ovo trazendo aquela gema bem molinha.
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Nós caímos na armadilha do progresso rodoviário, como se os trens representassem atraso. O que aconteceu é que, até hoje, muitas das nossas estradas federais encontram-se em estado lamentável e as linhas de trem somam centenas de quilômetros de abandono, de descaso. O atraso foi o que aconteceu, travestido de desenvolvimento.
Os países desenvolvidos de fato têm linhas de trem invejáveis, tanto para transporte de passageiros como para carga. É muito mais barato o transporte ferroviário, mas o governo prefere as pistas lotadas, sem ao menos garantir a qualidade da pavimentação das mesmas.
Viajei de trem na Itália e na Alemanha, com um serviço de bordo impecável. Não eram trens-bala, mas funcionavam perfeitamente, porque há toda uma infraestrutura que garante a qualidade desse eficaz meio de transporte.
Olhar para os trilhos abandonados dá uma dor imensa. Eles, com as vísceras à mostra, sem trem que os percorra, denunciam a falta de cuidado que há neste País com aquilo que deveria ser preservado.
Sou a favor de museus da ferrovia, mas, em primeiro lugar, quero ver de novo trens circulando, com vagões modernos. Trem é um objeto vivo, não pode ficar parado, imóvel, para ser contemplado como algo que já existiu e não existe mais.
Que governante irá fazer renascer o transporte ferroviário neste País? Não me refiro ao trem-bala, que deverá fazer daqui a alguns anos a rota Rio-São Paulo, mas penso naquele trem que passa por várias estações. Quantas pequenas cidades do interior praticamente sumiram depois que o trem deixou de passar.
Hoje, no Dia do Ferroviário, homenageio esse profissional e chamo o trem de volta, com o seu apito, com a sua magia, com a poesia que foi tirada do livro do nosso imaginário. Nada substitui o trem. Cometeram esse grave crime. Alguém, espero, deverá repará-lo.
Empresários de visão precisariam investir na ferrovia. Se for bem cuidada, dará muito lucro. Não tenho dúvida.
Enquanto o trem não passa, viajo pelo passado, pelo cinema, por filmes como “O Silêncio”, de Bergman e “Trens Estreitamente Vigiados”, em que esse meio de transporte tinha uma presença marcante.
Em trens de ar, viajo pela minha imaginação, pela infância e pelas boas recordações que tive nesses vagões que hoje são só memória, doce memória que a realidade apagou com extrema violência.
O trem virá um dia de novo, e será em uma manhã bela e poética, que nunca mais será esquecida.
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