Depois de seis anos sem avançar um dormente sequer em direção a Cuiabá, a concessionária da ferrovia Senador Vicente Emílio Vuolo, a América Latina Logística (ALL), anunciou ontem que o projeto será retomado no final do mês de junho e que a chegada até Rondonópolis, ao sul do Estado, estará concretizada até 2010. O anúncio sucedeu a entrega da Licença de Instalação que foi feita ontem, em Cuiabá, pelo presidente do Ibama, Roberto Messias Franco. Somente o documento permite a retomada da obra que está orçada em cerca de R$ 800 milhões, terá aportes do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FI-FGTS) e que deverá gerar 23 mil postos de trabalho diretos e indiretos.
Para o presidente do Fórum Pró-Ferrovia, entidade supra partidária que tem como objetivo trazer os trilhos até Cuiabá – Francisco Vuolo, filho do senador que concebeu o modal para Mato Grosso, o dia de ontem foi um momento histórico, pois além de marcar a retomada do projeto idealizado pelo seu pai há 33 anos, a confirmação da ampliação da estrada de ferro foi feita na vésperas do aniversário de morte de seu pai, que hoje completa oito anos. Sob muita emoção, Francisco, disse que a luta continua, “seja para trazer os trilhos até Cuiabá, como também para viabilizar o transporte de passageiros neste trecho do sul do Estado até a Capital”.
Mais do que comemorar a confirmação de que o canteiro de obras voltará a ser movimentado em Alto Araguaia (415 quilômetros ao Sul de Cuiabá) – onde os trilhos pararam em 2003 – é o posicionamento da ALL em relação à obra. Como disse o diretor de relações corporativas da concessionária, Pedro Roberto Almeida, o trecho de 251 quilômetros está no orçamento e no cronograma da ALL.
“Assumimos esse compromisso. Poderíamos ter feito antes, mas agora começamos e sabemos que vamos até a etapa final, que é Rondonópolis”. Enquanto o Fórum tratava da retomada em Alto Araguaia e a chegada até Mineirinho (distrito a cerca de 60 quilômetros de Rondonópolis), e após isso, numa segunda etapa avançar a Rondonópolis (210 quilômetros ao sul de Cuiabá), a ALL confirmava os dois trechos. “Os 251 quilômetros entre Alto Araguaia – onde os trilhos adormeceram – até Rondonópolis, estarão prontos para escoar a safra em 2011”, garantiu Almeida. “O trem está apitando”, brincou Vuolo.
OBRA – Como explicou o diretor de meio ambiente da ALL, Durval Nascimento Neto, a licença de instalação entregue ontem pelo Ibama, concede o direito de retomada das obras para os primeiros 13 quilômetros que deverão estar concluídos em cerca de quatro meses. Conforme oeste planejamento, a ALL dividiu o trecho de 251 quilômetros em três segmentos, o primeiro, é esse de 13 quilômetros. O segundo, com extensão de 162,5 Km, ainda requer LI do Ibama, que conforme Neto, será entregue no dia 26 de junho. E por último, os 75 km restantes, até Rondonópolis.
Questionado sobre o intervalo de mais de 30 dias entre a entrega da LI pelo Ibama (ontem) e o início da obra de ampliação da estrada de ferro, o diretor de relações corporativas explica que neste momento a ALL concentra esforços na cotação de preços para edificação da obra e que a concessionária dará preferência “respeitando a dobradinha preço e qualidade”, para empresas sediadas no Estado. “Outro fator que retarda mais um pouco a construção dos trilhos é que de acordo com o cronograma, a ALL vai iniciar e não parar até chegar ao quilômetro 751, em Rondonópolis. As LI’s vão sendo despachadas por trechos e temos de nos programar para trabalhar assim”.
TEMPO – Além da espera de décadas e da mais recente expectativa dos últimos seis anos, Vuolo lembra que há exatamente um ano, houve o comprometimento da retomada da ampliação a partir do segundo semestre de 2008. Almeida frisa que como houve alterações no projeto inicial, inclusive de traçado, a ALL teve de se adaptar as mudanças. “Agora, depende do Ibama”, alfinetou o diretor.
Respondendo à ALL, o presidente do Ibama, Roberto Messias Franco, foi contundente ao dizer que, “a partir do momento que a ALL enviar toda a documentação exigida para concessão da LI, o Ibama tem prazo de até 30 dias para se manifestar. Temos a obrigação de sermos detalhistas, criteriosos com o ambiente no entorno. Temos a missão de evitar que o mundo fique pior ainda e em se tratando de ambiente, lidamos com populações de animais e vegetais que não falam e por isso necessitam de proteção”. Questionado sobre as sansões em caso de irregularidades, Franco disse que elas variam de advertências, multas até o embargo da obra.
Frete e logística longe do ideal
A ampliação dos trilhos da ferrovia senador Vicente Vuolo, a antiga, Ferronorte, traz a reboque expectativas em torno de maior eficiência logística, principalmente para o escoamento dos grãos, como também, redução de custos os produtores. Para o presidente da Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado (Aprosoja), Glauber Silveira, não há dúvidas sobre a importância deste modal ao Estado, “no entanto, o modelo em que ele está desenhado não traz, pelo menos a curto e médio prazo, benefícios diretos ao produtor”.
Como explica, de cada 100 sacas de milho, 58 sacas são apenas para cobrir despesas com frete. No caso da soja, são 40 sacas. “Enquanto o produtor não fizer parte direta, o frete não trará alívio. O alívio, sem a participação direta do produtor, só virá quando o sistema brasileiro se igualar ao da Europa, onde na linha férrea operaram cinco, seis empresas. No Brasil, a concessionária é ‘dona’ da estrada e assim, sem concorrente, nada muda”.
Com a ampliação, o transporte de grãos anual chegará a 20 milhões de toneladas. A produção atual está estimada em 26,50 milhões. Silveira destaca que durante a colheita do milho safrinha – que tem início ainda neste semestre – o preço do frete rodoviário, comparado ao ferroviário, não apresenta diferença, ou em alguns casos, o trem fica mais caro. “Deveria haver uma regulamentação que obrigasse o frete férreo a ser sempre um percentual pré-determinado mais barato que o rodoviário. Quanto tempo mais o produtor terá de esperar por opções de frete mais baratas?”. Ele cita como exemplo, a China. Lá, o produtor que está perto da base de escoamento, ganha o preço de mercado pela saca, mais a diferença que o comprador economiza pela proximidade, “ou seja, o preço de Chicago mais o frete. No Brasil, o preço final, é o Chicago menos o frete”.
Apesar da crítica, o governador do Estado Blairo Maggi, observa que desde que a ferrovia chegou a Mato Grosso, os preços dos fretes rodoviários se acomodaram – com pequenas elevações, mais em função do petróleo – e não tem registrado picos de safra, como era antes.
Para o presidente da Fiemt, Mauro Mendes, “inicia-se uma nova etapa, a de agregar valor à produção, com transporte de contêineres, vagões frigorificados e não apenas despachar grãos”.
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