O tombamento da Estação Ferroviária da Parangaba, em 2007, virou dor de cabeça para o Governo do Estado. No projeto inicial do metrô de Fortaleza, o prédio seria demolido. A solução foi rebaixar a estrutura em três metros e meio. Essa operação foi concluída
A etapa mais complicada da obra de restauração da Estação Ferroviária da Parangaba terminou ontem. O prédio foi rebaixado em três metros e meio, o que vai permitir que a linha do metrô passe por cima da estação num trecho elevado. A obra foi a solução encontrada pelo Governo do Estado depois que a estação foi tombada como patrimônio público pela Prefeitura em 2007. No projeto original do metrô, a estação seria demolida. A primeira proposta era deslocar o prédio dali para outro local próximo, uma operação que custaria R$ 6 milhões. A ideia de rebaixar a estrutura reduziu o orçamento para R$ 794 mil.
Cavando o terreno nas laterais do lado de dentro e de fora da estação, o peso da própria construção faz com que ela afunde no solo. Esse é o princípio da técnica utilizada. O solo de argila vai variando e se torna mais arenoso no fundo, o que facilita a manobra. “A técnica é usual em pequenas edificações de concreto, mas em alvenaria é mais raro. No Ceará, essa é a primeira vez que se faz isso”, diz o secretário da Infraestrutura do Governo do Estado, Adail Fontenele, que visitou a obra ontem. O trabalho começou no dia 2 de junho, mas o processo de escavação levou apenas 12 dias.
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Para proteger a construção de 1941, o prédio foi todo “amarrado” com treliças de ferro por dentro e por fora. As paredes estão revestidas com espuma, isopor e madeirite. Por baixo do alicerce, foi colocada uma chapa de aço. A argamassa que unia as pedras da base, já gasta, foi reforçada com a compactação de concreto. Na lateral do imenso buraco formado, estacas de concreto e ferro de oito metros de altura seguram os paredões de barro. Algumas dessas estruturas ficarão no terreno, protegendo a estação da trepidação do trânsito pesado do entorno e do futuro metrô.
A próxima etapa é a drenagem do terreno com prazo de execução de 30 dias. Para manter o local seco mesmo depois de cavar três metros e meio, um sistema de drenagem vai contornar o prédio e será acionado automaticamente sempre que necessário. “Ele funciona com uma bomba que joga a água numa caixa de junção”, explica o engenheiro responsável pela obra, Antônio de Pádua Rodrigues.
O mesmo sistema mantém secas as garagens subterrâneas de prédios da avenida Beira Mar. A urbanização do entorno, com a construção de um jardim, e o restauro do prédio em si só devem ficar prontos no fim do ano. A estação vai funcionar como pólo cultural, guardando o acervo histórico da ferrovia, e como ilha digital.
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“Um sistema de sensores apitava quando alguma coisa saia do prumo”, conta o engenheiro Antônio de Pádua Rodrigues, responsável pela obra. Não houve nenhum acidente com a estrutura ou com operários durante a operação de rebaixamento.
“Não era fã da estrutura, mas temos que responder à solicitação da população, acatada pela Prefeitura no tombamento”, diz o secretário Adail Fontenele sobre a relevância histórica do prédio. “É mais afetivo. A comunidade tem esse apreço”.
Situada à beira da lagoa de mesmo nome, a Parangaba foi um dos mais antigos povoados do Ceará. Foi ali que os padres da Companhia de Jesus deram início, em 1607, ao trabalho de evangelização das populações indígenas.
Dentre os principais equipamentos instalados no bairro Parangaba no século XIX, estão a implantação da via férrea Fortaleza-Baturité e a construção de uma estação em 1873. A estação foi a segunda a ser construída no Estado depois da Estação Central, sendo demolida em 1939 e reerguida em 1941.
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