Curitiba discute, desde os anos 1990, construir linhas de metrô. O assunto foi um tema importante na campanha de 2008, na disputa entre o tucano Beto Richa, reeleito no primeiro turno, e a petista Gleisi Hoffmann, segunda colocada. Os dois prometeram fazer andar a ideia.
“A prefeitura não tem capacidade financeira de fazer a obra sozinha”, afirma Cléver de Almeida, presidente do Ippuc, o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba, responsável pelo projeto.
Curitiba tenta agora incorporar ao conjunto de obras que o governo federal pretende tocar para adaptar as cidades escolhidas sedes de jogos da Copa de 2014, por meio do chamado PAC da mobilidade.
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“A CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos, estatal do governo federal) já esteve presente nos estudos iniciais e estamos tentando viabilizar os recursos. Se fizermos a obra, teremos uma estação a três quadras do estádio”, diz Cléver. O custo da primeira linha do metrô de Curitiba seria de cerca de R$ 2 bilhões e ele adotaria, em 19 km dos 22 km de extensão, um método chamado de CAV (do inglês “cut and cover”, cortar/escavar e cobrir).
Aproveitaria, assim, os eixos estruturais Norte e Sul de Curitiba (que incluem transporte urbano de passageiros em canaletas exclusivas para ônibus, que seriam assim substituídas pelo metrô), sem que seja necessário construir túneis a grande profundidade. De um modo geral, quanto mais próximo da superfície, mais barata fica a obra.
Curitiba não é a única capital brasileira que busca vincular projetos de transporte sobre trilhos com a Copa do Mundo. Porto Alegre também vê no evento a possibilidade de construir a Linha 2 do metrô. Belo Horizonte, Fortaleza, Recife e Brasília, entre outras cidades-sedes (12 no total), buscam recursos do PAC para implementar obras e equipamentos de metrô, VLTs (Veículo Leve sobre Trilhos) e outros sistemas de transporte, inclusive obras viárias.
Um fato, no entanto, torna o metrô de Curitiba “emblemático”. A cidade é conhecida por ter um transporte urbano de qualidade baseado em corredores de ônibus, implementado a partir da gestão de Jaime Lerner, na década de 1970 – Lerner que, atualmente, opõe-se não apenas ao metrô de Curitiba, mas à adoção do meio de transporte como “panaceia” para grandes cidades brasileiras.
Para Lerner, que preparou um longo estudo sobre o tema para a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos, que reúne empresários do setor de ônibus urbanos), não há “nada como um metrô para se prometer ao cidadão, já que esse veículo parece o ideal: é rápido, viaja pelo subsolo, longe do trânsito caótico, e leva as pessoas confortável e rapidamente ao seu destino”. O metrô seria, desta forma, uma espécie de contraponto simbólico ao que acontece de fato nas metrópoles: a prioridade, no fim, é dada ao carro, e não ao transporte coletivo.
De modo geral, Lerner acredita que a adoção do BRT, ou Bus Rapid Transit, sistema semelhante ao que implantou quando prefeito, é uma solução mais barata e traz vantagens ainda a serem exploradas pelas cidades brasileiras – por exemplo, o passageiro ganha tempo em relação ao metrô por não precisar passar por “obstáculos” como escadas rolantes, bloqueios e a própria distância entre a rua e a plataforma.
“O BRT levou Curitiba a transportar mais gente do que era esperado para sistemas de ônibus, mas todo sistema tem uma capacidade final. Nenhum deles, mesmo o metrô, pode transportar todos os passageiros. Não estamos abandonando o BRT, mas nos eixos Norte e Sul, estamos chegando ao esgotamento”, diz o presidente do Ippuc.
Se o metrô não for incluído no pacote do PAC da mobilidade, uma definição que deve acontecer em agosto, Cléver de Almeida afirma que a cidade terá de buscar uma nova solução. “Não temos um estudo alternativo por enquanto, porque acreditamos que ele vai integrar as obras da Copa. Do ponto de vista da engenharia, dá até para fazer para 2013, quando ocorre a Copa das Confederações.”
Na contramão da maioria das cidades da Copa, o prefeito de Cuiabá, Wilson Santos (PSDB) criticou o projeto de 11,5 km de VLT, uma das obras planejadas para a cidade. Para ele, não haverá recursos suficientes para a obra.
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