O repasse de 33,3% de um contrato da empreiteira Constran a duas empresas que, segundo a Polícia Federal, teriam sido beneficiadas por um esquema envolvendo Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), é ignorado formalmente pela diretoria da Valec Engenharia, Construções e Ferrovias, estatal responsável pela obra da ferrovia Norte-Sul.
Apesar de informar que desconhece a subcontratação, a Valec tem na sua diretoria de engenharia Ulisses Assad, apontado pela PF como integrante de uma “organização criminosa” que, entre outras coisas, teria como objetivo o superfaturamento e o direcionamento de obras na estatal. É o que mostra reportagem do enviado especial Chico de Gois na edição desta quarta em O Globo.
Em setembro de 2006, a Valec contratou a Constran para obras de infraestrutura ferroviária e de arte (pontes e viadutos) num trecho de 105 km da Norte-Sul, entre os pátios Santa Isabel e Uruaçu, em Goiás. O total do contrato foi de R$ 245 milhões.
Em seguida, porém, a Constran repassou 16,65% (R$ 46,2 milhões) da obra à EIT Empresa Industrial e Técnica e outros 16,65% (mesmo valor) para a Lupama Comércio e Construções.
Esta última tem entre os sócios Flávio Barbosa Lima e Gianfranco Perasso, que teriam ligações, inclusive comerciais, com Fernando Sarney, segundo a PF.
A Lupama, levantou a PF, é uma empresa de fachada – não tem endereço, empregados e, numa interceptação telefônica de Flávio, este admite que não tem condições de fazer o trabalho.
A assessoria da Valec informou que a empresa não tem conhecimento do repasse de parte das obras e que a responsabilidade é da Constran. Em dezembro, quando foi descoberto um esquema na diretoria, a estatal constituiu comissão de sindicância.
O relatório deverá ser entregue ao conselho de administração na próxima semana. O GLOBO procurou a Constran desde segunda-feira, mas na empresa ninguém se dispôs a dar entrevista. A EIT não quis comentar o caso. Ninguém foi encontrado na Lupama.
Seja o primeiro a comentar