A Usiminas, maior fabricante de aços planos do país, anuncia esta semana que vai religar dois dos seus três altos-fornos parados: um em Ipatinga, no Vale do Aço mineiro, e outro em Cubatão, na Baixada Santista. A decisão da empresa, cujas produção e vendas foram fortemente afetadas pela crise internacional desde novembro, deve-se em essência à melhoria da demanda do mercado externo. No Brasil, a avaliação é de que a expansão do mercado ainda está mais lenta do que o esperado, principalmente no setor de bens de capital.
Desde junho, a demanda por aço no mercado internacional, puxada pela China e outros países da região, e pela queda dos estoques na Europa e EUA, reagiu. Aumentaram pedidos de semi-acabados (placas e tarugos) e material laminado a quente. Por conta disso, as exportações do Brasil cresceram 45,5% sobre maio e 3,5% comparado a junho de 2008. Os preços também subiram – mais de US$ 100 a tonelada nas últimas cinco a seis semanas. Isso levou usinas a reativar fornos (casos de Gerdau Açominas e CSN) e outras a operar seus equipamentos no máximo da carga, como a ArcelorMittal Tubarão.
Com capacidade total para produzir 9,5 milhões de toneladas por ano de aço bruto (placas) nas duas usinas, a Usiminas paralisou seu primeiro alto-forno em novembro, em Ipatinga, e, logo em seguida, um segundo. A unidade de Cubatão, depois de operar à baixa carga por um bom tempo, foi a última. Parou de vez em março. Assim, a empresa passou a operar com metade da capacidade instalada nos dois polos.
No primeiro trimestre, a empresa produziu apenas 1 milhão de toneladas de aço, abaixo de 50% do volume que está apta a fazer. Por conta da crise, vendeu apenas 1,05 milhão de toneladas no período e amargou prejuízo de R$ 112 milhões. Amanhã, à noite, a Usiminas divulgará o resultado do segundo trimestre.
Segundo apurou o Valor, o alto-forno de Cubatão, de nº 2, será reativado até o fim de julho. O equipamento responde por cerca de metade da capacidade de produção da usina paulista, de 4,5 milhões de toneladas de aço ao ano. Na época de sua paralisação, o presidente da companhia, Marco Antônio Castello Branco, disse que “a retomada da demanda não havia ocorrido conforme se esperava”.
Em Ipatinga, que está capacitada para fazer 5 milhões de toneladas ao ano, a empresa está retomando a operação do forno nº 2. Com isso, voltará a operar ao nível de 75% a 80% da capacidade total, com dois equipamentos. O alto-forno tinha parada para manutenção prevista para junho. A crise forçou sua antecipação a partir do início de dezembro. Tinha previsão de ser religado até abril, mas a demanda nos mercados doméstico e externo não reagiu.
O equipamento nº 1 de Ipatinga, com operação interrompida na mesma época, não tem data definida para voltar.
Reduzir ou parar de vez a produção de um alto-forno não é uma tarefa simples. As siderúrgicas desenvolveram vários métodos ao longo do tempo para fazer isso sem afetar a estrutura e o desempenho da instalação. Nessa crise, foram usados basicamente três formatos. O primeiro deles foi reduzir a capacidade de carga no alto-forno com uso de até 100% de coque (carvão) no processo, criando uma crosta mais grossa na sua parede interna. Nesse caso, para não correr risco, aconselha-se baixar a produção no máximo 20%.
O caso intermediário é o chamado “abafamento”. Toda a carga interior é limpa e o equipamento permanece apenas aquecido com coque, sem produzir. Recomenda-se manter esse sistema no máximo de 30 a 60 dias. O caso mais extremo é o apagamento total do forno. Nessa situação, geralmente as empresas aproveitam para antecipar reformas dos equipamentos, enormes estruturas de até 100 metros de altura. A cada período de anos essa manutenção tem de ser feita. Trata-se de uma operação demorada (mais de 90 dias) e com elevado custo. Há exemplos em que se gastam mais de US$ 100 milhões.
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