Os chineses estão entrando na briga pelo Trem de Alta Velocidade (TAV) entre Rio, São Paulo e Campinas. Uma missão oficial do governo chinês encerrou esta semana visita ao país, onde encontrou-se com representantes do governo e empresários do setor. A comitiva, chefiada pelo diretor-geral do Ministério das Ferrovias, Wu Wei, esteve no Rio, São Paulo e Brasília. E recebeu as informações do projeto a partir do relatório elaborado pelo consórcio liderado pela consultora britânica Halcrow, responsável pelos estudos de viabilidade técnica e de demanda de passageiros do trem-bala.
“Um dos objetivos da nossa delegação foi fortalecer a cooperação e os contatos entre as autoridades encarregadas das ferrovias no Brasil e na China”, disse Wu ao Valor. Segundo ele, a delegação reuniu dados sobre o desenvolvimento do TAV no Brasil e agora as informações devem ser analisadas pelo governo chinês. A decisão final sobre a participação dos chineses na licitação do TAV depende das condições a serem definidas no edital, que deve ser lançado até o fim do ano. Orçado em R$ 34,6 bilhões, o projeto do trem-bala brasileiro deve ser licitado no início de 2010.
Marco Polo Moreira Leite, presidente da Asian Trade Link, que assessorou a comitiva na visita ao Brasil, disse que o interesse manifestado pelos chineses no projeto do TAV brasileiro representa uma guinada. “Venho conversando com eles (com os chineses) sobre o projeto há um ano e meio e nesse período nunca haviam demonstrado disposição em analisar o projeto”, disse Leite. A mudança de posição foi determinada, segundo ele, pelo fato de empresas chinesas terem ganho contratos para fornecer trens à Supervia, concessionária de trens urbanos da região metropolitana do Rio, e novos carros de passageiros para o Metrô Rio.
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O Metrô comprou 114 novos carros da fábrica chinesa CRC, de Changchun, por US$ 148 milhões. Um consórcio chinês, também integrado pela CRC, fechou com a Supervia a venda de 30 trens unidades elétricos (TUE) por US$ 165 milhões. “Os chineses ganharam força e estão estruturados para disputar licitações internacionais. No caso do Brasil, há interesse em uma parceria estratégica”, disse Leite.
Segundo ele, a comitiva chinesa teve reuniões de trabalho com representantes da Casa Civil e da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), além de manter encontro com o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento. Em São Paulo, houve encontro com uma empresa para discutir eventual transferência de tecnologia no projeto do TAV. A participação dos chineses na licitação do trem-bala dependerá, porém, da modelagem financeira que vier a ser definida para o projeto, disse Lopes. A discussão passa por saber qual será a participação do Estado no projeto, se o governo responderá por uma parte dos investimentos. “Capacidade financeira e tecnológica, para participar do projeto, a China tem”, disse.
Em 2008, o governo chinês revisou um plano de médio e longo prazos para suas ferrovias. Segundo o plano, as ferrovias chinesas em operação serão ampliadas de 80 mil quilômetros, no fim de 2008, para 110 mil quilômetros em 2012, incluindo 13 mil quilômetros de ferrovias de alta velocidade. Para 2020, o país espera ter 120 mil quilômetros de malha ferroviária, das quais 16 mil operadas como TAVs.
Um dos projetos de trem-bala em construção na China é a ligação entre Pequim e Xangai, desenhada para operar com uma velocidade de 350 quilômetros por hora, a mesma do trem-bala brasileiro. Wu Wei disse que o TAV Pequim-Xangai, com 1,3 mil quilômetros, deve ser concluído em 2011. Só em 2009, o plano da China é investir o equivalente a US$ 87,8 bilhões na construção de ferrovias. Do total, 50% devem ser custeados pelo governo central, empresas operadoras e governos locais. A diferença virá de outras fontes de financiamento.
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